Diário de SP | Na Mostra (4)

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1 | Momento cinema-cabeça: eu também não entendi a cabeleira do Wim Wenders.

2 | E o maior mistério da Mostra pra mim, até agora, é conseguir identificar as pessoas que conheço pela internet, e até freqüentam este site às vezes. Sou péssimo pra isso. A distância que separa uma fotografia de Orkut da vida real é, para mim, uns setecentos quilômetros. Aposto que essa turma toda deve me achar um baita de um mal-educado, um carioca metido a besta, um cinéfilo forasteiro de araque – mas nem é isso, nem é timidez, juro: eu só não os reconheço, gente.

3 | O que move essa multidão a entrar em duas longas filas (a do ingresso e a da sessão), brigar por uma boa poltrona e enfrentar produções desconhecidas que muitas vezes só contribuem para a enxaqueca do dia seguinte? A resposta está no tópico abaixo.

4 | Sonata de Tóquio | Kiyoshi Kurosawa | **** 

Meu filme favorito da Mostra até agora periga ser incompreendido pelo menos de duas formas: alguns o tratarão como um ensaio sociológico disfarçado de melodrama (à Linha de passe), outros encontrarão mais um painel excessivo para os males do mundo (à Babel). Mas nenhuma dessas comparações há de se sustentar durante toda a projeção. Expert em fitas de horror, Kurosawa empresta a um drama doméstico a atmosfera de um história de fantasmas – e, com absoluta delicadeza, enxerga com uma lente delirante (levada ao limite na meia hora final) a crise das relações familiares. É, por isso, um filme incomparável que se dá ao luxo de parecer bastante simples (já que lida com eventos do cotidiano). Isso sem contar a aula que é assistir a um filme com planos construídos com tamanha leveza e precisão. A cena final já é a mais emocionante do ano. 

5 | E chega, posso voltar para casa.

6 | Queime depois de ler | Joel e Ethan Coen | **

Entre as pequenas comédias dos Coen, é uma das mais divertidas – a sucessão de boas piadas rendeu a sessão mais festiva da Mostra, e eu recomendaria o filme apenas pela cena em que George Clooney tem um ataque de paranóia em plena luz do dia, num parquinho. Mas, passado o impacto do reconhecimento de um estilo, o passeio pela Coenlândia acaba parecendo seguro demais – e lembrar de Onde os fracos não têm vez será prejudicial à saúde do espectador.

7 | Adoração | Atom Egoyan | *

Egoyan pode até não se cansar de fazer filmes sobre o ato de narrar histórias (um processo, ele alerta, distorce a verdade dos fatos), mas, pelo menos pra mim, já deu.

8 | Julgamento | Leonel Vieira | *

Um Ação entre amigos português com um clímax mui oportuno que enterra o filme a sete palmos.

9 | O clone volta para casa | Kanji Nakajima | w/o

Foi o Wim Wenders quem escolheu. O que não significa muito (ele também selecionou A sereia do Mississipi, do Truffaut), mas não pesa contra uma ficção-científica sobre clonagem que vampiriza Tarvoksvi e ganharia peso se exibido numa projeção digital menos vagabunda. Mas é tudo o que posso falar sobre ele, já que, cansado e faminto, abandonei a sessão com 60 minutos de filme.

4 comentários em “Diário de SP | Na Mostra (4)

    Filipe disse:
    outubro 21, 2008 às 1:52 pm

    Eu estava no Kurosawa.

    Guilherme Gaspar disse:
    outubro 21, 2008 às 2:44 pm

    “planos construídos com tamanha leveza e precisão” foi, de longe, o que mais me chamou atenção em “Sonata de Tóquio”.

    Vai no show do Kanye?

    Chico disse:
    outubro 21, 2008 às 6:52 pm

    O Kurosawa também é o meu preferido. Com o Jonathan Demme em segundo.

    Vi o filme do Wim Wenders hoje. Entendi como o cabelo dele ficou daquele jeito.

    Tiago respondido:
    outubro 22, 2008 às 2:21 am

    Filipe, eu te vi.

    Guilherme, vou sim.

    Chico, não tive ânimo para acordar e ver o filme do Wenders. Perdi muita coisa?

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