Dia: setembro 25, 2008
Loyalty to loyalty | Cold War Kids
Um bom vocalista às vezes faz toda a diferença. No caso do Cold War Kids, ele se chama Nathan Willet.
Sem Nathan, esta seria apenas mais uma banda que recicla um certo rock setentista (de Led Zeppelin, Rolling Stones) em arranjos crus, esvaziados por lacunas e silêncios. Resumindo: mais um candidato ao trono de Jack White.
Com Nathan, a banda encontra um tronco, uma personalidade. Quando o vocalista assume a dianteira – e isso acontece quase sempre -, é como se ele transformasse canções mais derivativas em confissões descontroladas, altamente expressivas. Não consigo imaginar os refrãos de Welcome to the occupation e Against privacy interpretados de uma forma menos atormentada. Eles simplesmente não fariam sentido.
Os agudos rasgados de Nathan, com um quê de Jeff Buckley e de Robert Plant, às vezes ofuscam o principal problema do álbum: a polidez da produção. As melodias são aparadas com tanto esmero que o resultam em números quase radiofônicos, quase sem cheiro e angústia, como se um DJ intrometido tivesse decidido limpar todos os ruídos do álbum mais recente do Walkmen.
É um band leader à procura de uma banda – que surpreende muito pouco, e só chega a entusiasmar no single Something is not right with me, igualzinho ao Spoon. Não ouvi o álbum anterior deles (dizem que é muito bom, e não duvido disso), mas já passou a hora de Nathan encontrar músicos que acompanhem o grau de intensidade dessas interpretações. Trata-se de um cantor que agarra cada oportunidade com os dentes, que parece disposto a tudo.
Escuto este Loyalty to loyalty um pouco insatisfeito, incomodado, mas certo de que não deixarei de acompanhar esta banda. Um bom vocalista às vezes move montanhas.
Segundo álbum do Cold War Kids. 13 faixas, com produção da própria banda. Downtown/Mercury/V2. **
Controle absoluto
Eagle eye, 2008. De DJ Caruso. Com Shia LaBeouf, Michelle Monaghan, Rosario Dawson e Billy Bob Thornton. 118min. *
Falando em mediocridade, nada como uma manhã de quarta-feira na companhia de DJ Caruso.
DJ Caruso. Vejam isso. Um nome, mil piadas prontas.
Então olha lá: depois de samplear Hitchcock em Paranóia, agora o sujeito faz um remix poperô farofa-fa esquema Ibiza de uma infinita lista de genéricos do cinema de ação. De Inimigo de estado a Duro de matar 4.0, o espectador mais desocupado pescará uma série de semelhanças entre Controle absoluto e filmes que nunca fizeram tanta diferença assim.
A primeira hora, por exemplo, é quase idêntica à de O procurado. O típico caso do zé-ninguém que se descobre no meio de uma conspiração internacional, extraordinária, perigosa, excitante e apocalíptica. E a segunda metade… Bem, aí o filme vira meio que uma auto-paródia, quase uma versão de 2001 – Uma odisséia no espaço dirigida por David Zucker.
E lá no material de divulgação vem escrito que Steven Spielberg tenta emplacar essa premissa há nada menos que uma década. Duvido. Deve ser intriga da equipe de marketing.
Em Controle absoluto, os personagens vivem as mais incríveis perseguições quando se descobrem alvo de uma voz feminina que tudo pode, tudo faz e tudo quer. Me pergunto: se ela pode absolutamente tudo, não haveria como capturar o Shia LaBeouf sem provocar quase que uma guerra civil em pleno perímetro urbano?
Tem mais. Num certo momento da trama, um personagem diz a seguinte frase: “Algumas medidas usadas pelo governo para garantir a liberdade do povo acabam ferindo essa mesma liberdade.” Ok, acho que até o George W. Bush captou a mensagem.
Eu gosto de nonsense, e sei que você gosta de nonsense. Mas como é que DJ Caruso dirige esse filme B? Com a atmosfera impessoal e descolorida de um episódio de seriado policial. Com um olhar robótico que acaba combinando com os vilões da trama. Com a eficiência de quem vai lá e faz o trabalho. Com alguma frieza, apatia, distanciamento – duvido que intencional. Controle absoluto é um hit que já nasce requentado, cambaleando na pista vazia.