Dia: setembro 16, 2008

Sonho (I)

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Sonhei que eu entrevistava a Mallu Magalhães. Na casa dela. E ela era uma garotinha de cinco anos de idade. Que só sabia falar inglês. Quando falava, soltava ruídos abafados daqueles que a gente ouve em ligações telefônicas de longa distância. Na minha primeira pergunta (sobre a participação no álbum do Marcelo Camelo), ela respondeu com uma pergunta: “who is Marcelo Camelo?”. Depois a mãe da menina chegou – uma moça rechonchuda com bobs no cabelo e uma touca de banho cor-de-rosa – e avisou que a filha precisava descansar. “Ela compõe de duas em duas horas. Essa rotina está virando um transtorno, coitada”, e ainda tentei perguntar por que a mãe falava português perfeitamente (com sotaque do interior de São Paulo!), mas aí acordei com o som dos cachorros latindo quando chega o entregador de jornal.

Novamente Kings of Leon

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Surely, we can do better for the platonic ideal of a rock band than four guys gunning for a spot rightfully inhabited by My Morning Jacket but instead coming up with the best songs 3 Doors Down never wrote.

Escreveram na Pitchfork uma boa resenha sobre o álbum novo do Kings of Leon. Acho que vocês deviam lê-la. Nem que por curiosidade, vai. O primeiro parágrafo é dedicado a uma certa música que está bombando nas paradas. Sabe qual? Então.

São Paulo me diz não

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Quando conheci São Paulo, a cidade parecia até uma antiga lembrança. Era como se eu a conhecesse de algum lugar. De algum filme. De um programa de tevê. De uma peça publicitária. De um canto aí.

E era uma daquelas memórias amareladas (que, na prática, não existem).

Depois de um tempo, feliz com essa estranha sensação de familiaridade, comecei a tratar a cidade como se ela também fosse um pouco minha. Um pouco. 0,001%, o que fosse. Sem ataques de ciúmes, eu. Eu, o carioca da gema debochado inconveniente exilado; eu, o sujeitinho que não sabia mais a que lugar pertencia; eu, órfão de cidade-natal e talvez também de pai. Eu tentei buscar naqueles cruzamentos irregulares alguma espécie de porto seguro. Acinzentado, como manda o clichê, mas agradável.

Não sei se por um momento me senti em casa. Mas aí voltei. Pronto a trocar alianças. E a cidade decidiu, num rompante, colocar nossa relação em pratos limpos: ‘não é bem isso’, ela me disse. Fiz que não ouvi.

Fiquei por aqui, crente de que ela me queria de volta. Ou me quereria de volta, vá saber. Será que quis? Desembarquei com a esperança de reatar o caso antigo, mas ela já me olhava com um certo desdém. Me isolava em quartos de hotel. Me deixava perdido nas ruas tortas. Me soltava no gelo dos quartos sem sistema de aquecimento. Uma rejeição lenta que preferi tomar como um mal-entendido. ‘Você sabe o que está fazendo?’, perguntei. A resposta: silêncio. ‘Você tem absoluta certeza de que vamos terminar tudo? Tão cedo? Não nos conhecemos direito. Foram três ou quatro noites tão intensas, tão felizes-pra-sempre’, ainda tentei, com a persistência que tenho para dar e vender.

Avancei novamente. Repeti um flerte meio envergonhado. Mas depois, nada. A cidade não me quer perto. Prefira que eu não a visite. Não tem tempo. Muito trabalho, afazeres, fazer o quê? Está enrolada, há contas a pagar, louças pra lavar, roupas sujas e essa poeira e o frio que faz nesta época do ano. Está presa no engarrafamento. Está cheia de conhecer gente nova. Precisa de um tempo. Quer folga. ‘Mereço novos ares!’. Está farta. Prefere outro estrangeiro.

Só que eu, eu aqui, eu não cansei. Taí a minha teimosia (uma arma pra te conquistar?). Tento um novo aceno. Que, novamente, esbarra na parede do meu quarto e desaba morto no chão.

Hoje em dia, São Paulo só me diz não.