Dia: julho 24, 2008
‘Snowflake midnight’ Mercury Rev **
Tentativas de reinvenção musical são quase sempre assustadoras. No caso do Mercury Rev, tive pesadelos: usar climas de música eletrônica para atualizar uma sonoridade psicodélica/progressiva poderia muito bem aproximá-lo perigosamente do trance, do lounge e de outros pecados tristes, doloridos e mortais.
A boa notícia: Snowflake midnight não é uma tragédia (e não é o “álbum pop” do Mercury Rev). Mas também está longe de merecer elogios deslumbrados do estilo “eles voltaram à forma, meu deus!” ou “é o melhor deles desde Deserter’s songs, nossa senhora!”. Não. É bem verdade que a banda tenta se transformar numa espécie de Pink Floyd para pistas de dança. Mas sabe a distância que separa uma tentativa ambiciosa de um grande acerto? Pois é.
Se o álbum finalmente encerra um ciclo de space rock etéreo que já começava a torturar a banda, os fãs e os duendes da floresta (The secret migration é até bem intencionado, mas alguém se importou tanto assim com ele?), lança outros problemas criativos para Jonathan Donahue e cia. Por exemplo: como vencer os tiques de produção de Dave Fridmann, que volta a demonstrar a velha tendência a engordar canções com excesso de penduricalhos? E como dar o passo adiante numa poesia dopada que beira a auto-paródia (vide a fofucha A squirrel and I)?
É, na melhor das hipóteses, o retrato de um período de transição (e, na pior, de uma fase de confusão). Apesar de tudo, este álbum curto com canções espaçosas deixa a impressão de ter dado um trabalho desgraçado para a banda (tanto que eles soltarão em setembro um outro disco inteiro, de graça na internet). E, outra boa notícia, quase nunca soa como trance. Eu disse quase nunca.