Dia: junho 29, 2008

Pecados e tentações

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A exemplo de certas pessoas, eu vi o filme novo da Leila Lopes. Aquele. O filme que, vocês sabem, a atriz só topou fazer porque contava uma história.

Pecados e tentações, o guilty pleasure de 2008? Nada. A professorinha merecia algo melhor. Uma história melhor, digo. Mais digna. À altura de um Benedito Ruy Barbosa. Esta aqui é, desculpem o linguajar, uma bagaceira. Quase um Aguinaldo Silva. Parece uma paródia daquele quadro A vida como ela é (se bem que, em alguns momentos, mais engraçada que metade dos episódios dirigidos por Daniel Filho). De algum lugar estranho, Nelson Rodrigues deve estar gargalhando.

A história, então: a mulher (Leila interpreta uma atriz, notem a sofisticada metalinguagem) trepa com o primo, o primo é seminarista e, pra arregaçar com todos os tabus da família brasileira, o sujeito tem umas tatuagens do quinto dos infernos e pós-graduação em Kama Sutra. As cenas de sexo são entediantes, filmadas com um desinteresse esquisito pelo cineasta/ginecologista J. Gaspar. Nem sadismo o diretor consegue demonstrar.

E aí escalam uma atriz secundária que praticamente humilha nossa protagonista, numa atuação tão esforçada e palpitante que faria por merecer um Prêmio Contigo! ou um Troféu Imprensa ou um papel em Malhação ou o que for. Ela se chama Thamires. Guardem esse nome. E esqueçam o resto. A história, digo.

Festival Motomix

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Um dia vão acabar me convencendo a trocar este blog por uma conta no Twitter. Eu poderia escrever 100 caracteres sobre os shows do Motomix e me dar por satisfeito. Posso me expressar com estrelinhas? **. Em uma palavra: morno. E é isso, folks.

Como assim? Morno? Só morno? Deixem que eu me explique. Em matéria de organização, foi um festival exemplar. Coisa finíssima. Os shows começaram e terminaram todos na horinha certa. O espaço no parque Ibirapuera ficou confortável. O público se comportou como um bando de meninos de colégio militar em dia de prova. Até São Pedro deu uma mão: o céu estava azul, quase sem nuvens. E, pra quem estava esperando temperatura abaixo de dez graus, eu mal sentiria falta do meu casaco. Maravilha de cenário.

Se o Franz Ferdinand entrasse naquele palco (e o palco tinha um design bem bacana, só para constar), provavelmente faria o melhor show das nossas vidas. O problema é que nenhuma das bandas escaladas para a sexta edição do festival conseguiu fazer justiça à estrutura do evento. Pior: nenhuma delas conseguiria fazer um grande show, já que não são (er, desculpem a rispidez) grandes bandas.

Pronto. Aí mora o problema. A culpa nem é da curadoria do Motomix, bastante corajosa na escolha de nomes praticamente desconhecidos por aqui. “Nem eu sabia cantar as músicas do Metric!”, confessou um jornalista mui informado, ao fim da maratona. Digo mais: nem eu, provavelmente o único fã da carreira solo de Emily Haines em todo o território brasileiro, sabia os versos de Empty e Handshakes. O chato foi que as bandas promissoras só fizeram confirmar alguns tiques que todo mundo associava a elas. As brasileiras, então… Não justificam 30 caracteres.

A única rassalva que faço a essa regra geral diz respeito ao Fujiya & Miyagi. Contra as expectativas de uma performance eletrônica sonolenta, o quarteto britânico disparou uma revisão de krautrock (com vocais quase sussurrados e aquele baixo com o peso de cinco elefantes) que cairia muito bem como show de abertura do LCD Soundsystem. Mesmo assim, com 40 minutos de show a repetição de truques começava a cansar – e, quiz!, ganha cinco barrinhas de chocolate quem souber diferenciar a segunda música da quinta ou da sexta.

The Go! Team e Metric nem precisavam ter se apresentado. As fotos de divulgação já dizem tudo. O primeiro é (quando inspirado) deliciosamente caótico e (quando enfadonho) um cartoon travado num infinito repeat. No palco, parece uma jam session tresloucada da turma do Scooby Doo. As vocalistas são uma graça – e a desembestada Ninja entrou na briga para roubar de Emily Haines o posto de musa indie do Ibirapuera. Na opinião de muita gente boa, conseguiu. Para mim, deu empate.

Já o Metric é aquela coisa. “Mainstream demais para o underground, underground demais para o mainstream”, disse Emily na coletiva de imprensa. Acrescento: “convencional demais para o meu gosto”. É, de longe, a banda mais quadrada e previsível de todas que conheço dessa tal onda do rock canadense. Os 40 primeiros minutos de show foram tão comportados que entediaram. A reação da platéia, com razão, foi fria, fria. “Vocês não querem que a gente volte? Que porra está acontecendo?”, reclamou Emily, quando voltou ao palco sem que ninguém exigisse o bis. O momento constrangedor parece ter dado uma sacudida no grupo, que retornou menos apático e, aos 45 minutos do segundo tempo, quase reverteu o placar. Quase.

Essa parte final do show eu vi colado no palco. E garanto: Emily Haines é sim um negócio. Ela se descabela toda e berra horrores e ainda assim soa delicada quando necessário. Com canções decentes (o que não acontece com o Metric), a loura fatal deve matar a pau. Quando ela se preparava para anunciar a última música, eu gritei: “Doctor blind! Toca Doctor blind aí, pô!”. Mas era só eu. Pagando mico. E, depois, morto de vergonha. Mas tudo bem. Nessa altura, todas as pessoas conhecidas já tinham batido em retirada.