Dia: junho 24, 2008
‘Feed the animals’ Girl Talk **
A exemplo do Radiohead e do Nine Inch Nails, Gregg Gillis decidiu que o fã escolhesse o quanto pagar pelo novo álbum do Girl Talk. Eu paguei $1. Poderia ter levado o disco de graça. Mas investi $1. Sempre achei que o Girl Talk valesse exatamente essa quantia e agora finalmente tenho a chance de externar minha opinião sobre o assunto, economicamente falando. É $1. Estamos conversados (o endereço para o download é este aqui).
A arte do Girl Talk é a da picaretagem. Assumidíssima, aliás. Gregg, o camelô indie, lança discos por um selo informal chamado Illegal Art. E, se tem uma meta profissional, é a de incluir o maior número de pedacinhos de hits dentro de jukeboxes frenéticas de três minutos de duração. Ele chega lá. Sem a concorrência de um Danger Mouse, que encontrou algo mais produtivo para fazer da vida (Gnarls Barkley, alô?), pode até sair por aí se achando o rei do mash-up. Ninguém terá paciência para desmenti-lo.
Em matéria de mistureba enlouquecida, o sujeito não é nada amador (quem assistiu à esquentada performance do moço no Tim Festival sabe bem disso). O que há de provocar algum clima de incerteza na pista de dança é que, neste quarto álbum, o Girl Talk volta ao planeta numa época em que o mash-up já parece morto e enterrado. Para piorar, Gregg não tem nada de novo a comentar sobre o assunto. Feed the animals é uma continuação literal do álbum anterior, Night ripper, um tanto mais diversificado, mas novamente um cabide de hip hop onde o DJ pendura referências musicais esquizofrênicas. Do pop oitentista ao grunge. De Avril Lavigne a Lil Wayne.
Para um projeto novidadeiro por excelência, a desatualização chega a aborrecer. O Girl Talk poderia ter seguido por tantos caminhos diferentes que a paralisia criativa provoca um certo desconforto. Novamente, Gregg empilha as faixas num fluxo contínuo de citações aceleradas. A sensação de termos comprado gato por lebre aumenta quando notamos o quão óbvias são essas referências do produtor. Nothing compares 2 u, Kiss (do Prince), Under the bridge (Red Hot Chili Peppers), Lithium (Nirvana), Groove is in the heart (Deee-Lite)… Parece até uma versão compactada do set do DJ mais previsível de uma cidade pequena e entediante como, digamos, Brasília!
É disco para levar uma estrelinha solitária no meio da testa, né não? É. Mas, se você fizer de conta que o mash-up ainda suspira, trata-se de um álbum que entretém exatamente pela forma despudorada e desajeitada com que faz uma ode ao pop-rock dos anos 90. Quem viveu a época acabará se identificando, por exemplo, com heresias como mesclar Cranberries com M.I.A. ou Groove is in the heart com Lithium. O momento mais estranho, disparado, é o mix de Roc Boys (do Jay-Z) com Paranoid android, do Radiohead.
Só ouvindo. É um álbum para ser devorado na pressa e, meia hora depois, completamente esquecido. Um prato-feito gorduroso, nada nutritivo. Às vezes delicioso, mas que vale exatamente o quanto pesa: $1, não mais.
Críticos
O que mais me assusta, parte 1: começar a escrever sobre filmes com o entusiasmo cego e autoritário de um torcedor fanático de futebol, daqueles que não vêem o menor defeito no time do coração. E terminar meus textos explicando que é essa a paixão que deve mover o bom crítico. Se isso acontecer por aqui (e, do jeito que sou desatento, talvez tenha acontecido), favor acionar as poltronas infláveis e abandonar este blog sem dó.