Dia: junho 23, 2008
A banda **
“Banda musical egípcia vai a Israel para participar da inauguração de centro cultural árabe é esquecida no aeroporto. O grupo decide fazer a viagem por conta própria e se perde no deserto, onde é acolhido por moradores.”
Eis a sinopse de A banda, objetiva e acinzentada assim, estampada no suplemento cultural. De certa forma, diz quase tudo sobre esta produção israelense com quase 20 prêmios no currículo (entre eles, uma menção da mostra Um certo olhar, de Cannes). É um filme com todas as credenciais para ser abraçado e defendido antes mesmo de ser visto.
Quem não concordará com essa trama, que força um encontro carinhoso entre egípcios e israelenses no meio do nada e, nesse melting pot (como diria o ministro da Cultura), faz questão de humanizar cada um dos tantos personagens? Impossível não lembrar de, por exemplo, Bagdad café. Ou, com muita boa vontade, buscar as referências para as seqüências mais sentimentais lá em Vittorio de Sica. Quem não assinaria esse cheque em branco?
Mas desconfiemos um pouco do excesso de confete, ok? Para imprensa norte-americana, qualquer produção estrangeira que enfrente temas espinhosos com o mínimo de delicadeza e traquejo da narrativa clássica é tomada como uma sensação (talvez por que eles esperem dos estrangeiros nada além de precariedade e abstração). Nas primeiras cenas, conduzidas com planos longos e silêncios que pesam toneladas, deixa boa impressão. E algumas há seqüências bem resolvidas, como aquela em que, numa mesa de jantar, o cineasta expõe toda a tensão política entre os povos do Oriente Médio sem precisar falar em judeus ou palestinos.
Só me decepciona um tanto o modo choroso como o diretor explora os dramas dos personagens. Todos eles se entendem, já que são solitários incuráveis. Cantarolam Summertime quando deveriam estar interpretando Owner of a lonely heart. As cenas na pista de patinação, instantes de melancolia pop, poderiam ter virado ouro nas mãos de Paul Thomas Anderson. Nas de Eran Kolirin, parecem explicitar o que estava nas entrelinhas. Mas a gente entende: em matéria de boas intenções, o filme faz por merecer todo e qualquer prêmio.