Dia: junho 19, 2008

‘Hits are for squares’ Sonic Youth ***

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Do Sonic Youth, eu esperava quase tudo. Uma álbum duplo lotado de faixas experimentais que mais parecem instalações de arte contemporânea? Previsível. Pocket show num episódio de Gilmore Girls? Bastante plausível. Participação especial em Os Simpsons (e devorando uma melancia gigante)? Nada de extraordinário.

Eu só não não esperava do Sonic Youth uma coisinha patética: o greatest hits. Num belo dia, até prometi para mim mesmo que, caso isso acontecesse, eu anotaria num pedaço de papel as letras S e Y e o colocaria na boca de um sapo. Com fã xiita não se brinca.

E não é que, no ano em que minha vida tomou caixote numa maré de azar, os nossos mais queridos outsiders decidem lançar uma coletânea oportunista? Um apanhado de sucessos? Com as inevitáveis inclusões de 100% e Bull in the heather? E no selo da Starbucks?

Respirei fundo. Entrei no brejo e procurei o sapo. Mas aí, ao fim da primeira audição, tive que me render aos fatos: nenhuma outra banda do planeta seria capaz de ter bolado um greatest hits tão insólito quanto esse. Talvez o Mundo Livre S/A, mas essa é outra história.

Estou, sim, muito convencido da eficiência do produto (as três estrelinhas, rapaz, nunca são sacadas em vão). Desde ontem à noite, não consigo parar de ouvir o disquinho. É, sim, um álbum bastante apelativo (as quatro primeiras faixas são as mais conhecidas da banda), mas que subverte sutilmente um formato ordinário. Colado no lançamento de uma coletânea de lados B (The destroyed room), o Sonic Youth for dummies não perde a compostura.

É um álbum irônico quando deve ser (a arte da capa mostra um sujeito engravatado ouvindo iPod num café chique) e que amarra um resumo até bem digno da história da banda. Como Thurston Moore (que, como eu, nasceu num 25 de julho e talvez por isso seja um sujeito tão sensato) afirmou à Billboard, uma banda que não se envergonha de lançar discos pela Universal não deveria se acanhar diante da Starbucks. “Sonic Youth é uma marca. As pessoas conhecem nosso nome, mas não nossa música”, disse. O grupo preserva o espírito de guerrilheiro ultrapassado, e aqui quer pregar o evengelho noise para novos cordeirinhos. É uma missão até heróica, se você parar para admirá-la.

Com um repertório selecionado por amigos (de Radiohead a Gus Van Sant), o disco se permite algumas brincadeiras cruéis. Dispor lado a lado, por exemplo, a delicada cover de Superstar, do Carpenters (escolha de Diablo Cody, quem mais?) e a introdução jazzística de Stones, do complicadinho Sonic nurse (preferida de Allison Anders), é descarga elétrica. A excelente Rain on tin, de Murray Street, entrou no top 15 graças a Flea, do Red Hot Chili Peppers. Dave Eggers cravou Tuff gnarl. Já Michelle Williams, Shadow of a doubt. A canção nova, Slow revolution, chega a lembrar os momentos mais tristonhos do Yo La Tengo. Para minha sorte, não entrou nada de Rather ripped.

Isto é: um álbum abertamente comercial e nada convencional. Uma delícia e um ato de perversidade. 100% Sonic Youth.

Clipe: ‘Sister robot’ The Trons

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O trio The Trons esbanja carisma. Ham, Wiggy e Swamp conquistam nossa simpatia logo nos primeiros acordes. São uns chapas. Nesse descontraído registro de ensaio, já dá para perceber que eles vieram para chacoalhar o rock da Nova Zelândia. Não entendo uma palavra do que eles cantam (grandes coisas, já que também me perco nas canções do Sigur Rós), mas anote o que digo: em 2008, não terá pra ninguém.

Ahn… Sério que eles são robôs? Puts. Que coisa. Que triste. Que vida. Juro que eu nem tinha percebido…