Joy Division **
Quanto mais filmes assisto sobre Joy Division, menos conheço a banda. Sem exagero. “Como foi o processo de gravação de Closer?”, perguntam a Bernard Sumner neste documentário. “Foi supertranqüilo”, ele devolve. “Vocês lembram de como Ian Curtis escrevia obras-primas como Shadowplay?”, e Peter Hook responde: “Não sei… Deixa eu ver aqui com meus botões… Ah, o Ian era um sujeito normal.”
Certo. Um sujeito normal. Aposto que sim. Um sujeito normal, chapa, gente boa e amigão. Mas um sujeito que transformou radicalmente o rock do final dos anos 1970 e ainda é uma das principais referências para qualquer bandinha nova criada em porões de Nova York, Berlim, Brasília ou Malásia. Quer mais? Dois dos principais álbuns da história do rock foram escritos pelo brother – Unknown pleasures e Closer, os dois únicos discos do Joy Division. É tudo? Um sujeito normal?
Control, tão dedicado às pendengas domésticas do compositor, já era decepcionante. Já Joy Division, ainda que competente, chega a soar enigmático. Todos os entrevistados do documentário de Grant Gee (de Meeting people is easy, do Radiohead) falam pelos cotovelos. Mas não acrescentam um só detalhe novo a uma história que os fãs da banda já conhecem muito bem. Pior: quando os convidados podem, a simplificam. “Não gosto de Unknown pleasures. É um disco sombrio demais”, resmunga Sumner. Ah. Verdaaaade? (inclua aqui o efeito sonoro de um bocejo).
E aí inventam de perguntar a Peter Hook sobre a postura de Curtis no estúdio: “Ele era superfun“, resume. Ok. Das duas, uma: ou eles se esqueceram de tudo o que viveram (uma alternativa plausível), ou não querem contar absolutamente nada de muito importante. De qualquer forma, conseguem: Joy Division é um filme que cumpre uma certa função didática, agrada pela quantidade de imagens de arquivo, situa bem a banda no contexto de uma cidade em ruínas e, finalmente, tem um design soturno de um videoclipe do Depeche Mode. Mas, vejam bem: se o Joy Division era só isso, um esquisito acidente de percurso comandado por um sujeito normal, estou perdido – alguém vai pagar pelo tempo que gastei com uma das minhas bandas favoritas?
junho 18, 2008 às 2:00 am
cara, RAPIDO, assista a once and again.
“gardenia” é tipo “rory’s birthday parties”. LINDO.
eu vejo lost se voce começar com o&a.
junho 18, 2008 às 4:45 am
Vai ver, meu caro, eles eram mesmo pessoas normais que tiveram o devido insight.
Um momento de compor genialidades, outro de viver suas vidinhas, assim como eu e você.
Contar com o ovo na galinha é que não pode, meu jovem.
junho 18, 2008 às 10:26 am
Ninguém está contando com o ovo na galinha. É que eu queria saber um pouco mais sobre o insight, e não sobre as vidinhas como a minha e a sua.
junho 18, 2008 às 5:26 pm
Acho que a esmagadora maioria das coisas bem feitas e revolucionárias (incluindo expressão artística) sejam feitas por pessoas normais…
junho 18, 2008 às 5:29 pm
De perto ninguém é normal etc.
junho 18, 2008 às 8:20 pm
Acho que não tem nada biologicamente plausível que coloque esse tipo de gente em outra categoria…
junho 18, 2008 às 9:05 pm
Cara, eles são artistas, certo? Para gravar álbuns passam por fases de criação, ok? Então: esses períodos de composição/gravação são sempre riquíssimos em histórias (e aí é só assistir a qualquer documentário vagabundo sobre os Beatles, por exemplo). O que me admira é que, no caso do Joy Division, fica dificílimo ter acesso a essas histórias pq, quando se fala em Ian Curtis, ele é tratado como um “cara normal” que teve problemas com a esposa e ataques epilépticos e ponto final. Não é isso que me interessa. O que me interessa saber é como esse cara artisticamente ANORMAL (poucos fizeram o que ele fez) criava. Só isso. E não acho que seja pedir demais.