Boarding gate ***
Serei sempre o primeiro a reconhecer que Olivier Assayas ainda não dirigiu nada com o impacto de Irma Vep (2006), mas que filme este Boarding gate. Que filme.
Não acreditem nos comentários maldosos da oposição. Não é um longa desgovernado e confuso. Sejamos precisos: é um longa sobre pessoas num mundo desgovernado e confuso. Ainda mais precisos: sobre uma mulher em fuga, interpretada por Asia Argento, que precisa desaparecer.
Assayas já dirigiu dois ou três filmes sobre temas parecidos. Demonlover (2002) também desmontava as convenções de thrillers de espionagem. E Clean (2004) buscava o retrato tremido de uma mulher em trânsito, sem um lugar no mundo. Mas Boarding gate leva essas ambições a um elegante ponto de ebulição.
É uma narrativa (e disso vocês provavelmente já sabem) separada em duas partes. A primeira é um agoniadíssimo filme de amor, um acerto de contas para um romance em estado avançado de degeneração. A segunda é uma corrida fita de suspense, emaranhado de intrigas ambientado em Hong Kong. São dois belos filmes, mas fico com o primeiro. É uma fossa que dói na carne, comparável à de Kill Bill, vol. 2. Ou à primeira parte (sofrida, sofrida) de Em Paris.
Em seqüências demoradas (tour de force tanto para Argento quanto para Michael Madsen), Assayas garante à protagonista um grau de complexidade capaz de sustentar todo o restante da trama. Mesmo quando as situações da trama nos deixam desorientados, não há como abandonar a sensação de angústia e incerteza experimentada por aquela mulher. E não há como evitar o espanto diante da iluminada fotografia de Yorick Le Saux, um fenômeno.
Como todos os filmes do diretor, este também obriga uma revisão. Não acredite naqueles que acusam o cineasta de ter errado a mão. Talvez ele tenha apurado o olhar sem que tenhamos percebido. Por enquanto, Boarding gate é apenas um típico, ótimo Assayas.
junho 10, 2008 às 11:31 pm
“é um longa sobre pessoas num mundo desgovernado e confuso. Ainda mais precisos: sobre uma mulher em fuga, interpretada por Asia Argento, que precisa desaparecer” — esta é uma descrição perfeita.
Prefiro a parte de Hong Kong, mas o desempate foi aquela sequencia final. E como Assayas usa bem música! Estava com um sorriso enorme na altura que a musica dos Sparks entra.
junho 11, 2008 às 10:08 am
A seqüência final é ótima mesmo.
junho 14, 2008 às 7:28 pm
Hummm… e eu achando que era cedo pra baixar…
junho 14, 2008 às 10:53 pm
Acho que vale a pressa, Chico. Baixe.
junho 17, 2008 às 11:46 am
Putz, eu acabei de baixar só pq encontrei ele ao acaso, vou adiantar p/ assistir então.