Dia: junho 9, 2008
A outra *
Ninguém quer a reinvenção do papel-marchê (ou das minisséries da BBC, que seja), mas não entendo os defensores dessas encenações folhetinescas das intrigas da corte inglesa. O que o futuro guarda para filmes como Elizabeth, a continuação de Elizabeth ou este A outra? Uma caixa de DVDs para ser vendida em bancas de jornais como brinde fofo para as leitoras de Sabrina e Júlia? Exibições gratuitas para compor o ambiente de lojas de artigos de decoração? Presente de chá-de-panela?
Existirá sempre aquela desculpa: a fotografia, tão bonita! Mas que beleza-padrão é essa, que se repete feito fotocópia e arde com nossos olhos com tanta insistência que acaba por perder todo sentido? Um excesso de formosura que pode ser simulado com dois cliques no Photoshop.
E aquela outra desculpa: mas é um filme tão leve e divertido! Aparentemente, a intenção do roteirista Peter Morgan e o diretor Justin Chadwick era mesmo limar os trechos mais aborrecidos que atrapalhariam suspiros do rala-e-rola entre o rei Henrique VIII e as irmãs Ana e Maria Bolena. Nesse processo de “arredondamento” da História, eles perderam o que esse melodrama teria de mais fascinante: a reflexão sobre como as transformações históricas muitas vezes são provocadas por um tufão desgovernado que entrelaça política, sexo, vaidades, atos violentos e confusões cômicas. Era o que queríamos?
Este é um filme polido demais para aceitar um retrato complexo e desorganizado de personagens que, superficialmente, parecem gritar: nascemos para a Broadway! Em um determinado momento, Scarlett Johansson até canta. Nada de Tom Waits, para nosso azar.