Dia: junho 5, 2008

Um blog

Postado em

Escrever um blog é como lançar cartas dentro de garrafas. Impossível saber onde os posts – os mais irrelevantes! – vão acabar aportando. Pra vocês terem uma idéia, os textos que hoje bombam por aqui são os de baixo orçamento: uma resenha de coletânea do Mundo Livre S/A, que escrevi no intervalo do almoço, e um comentário igualmente apressado sobre o show da Mallu Magalhães no Bananada.

Quem diria: opino sobre Madonna, Sex and the City, Ronaldo, Weezer, Indiana Jones, Speed Racer e o que dá ibope é Mundo Livre S/A e Bananada. Só aqui.

O que aconteceu foi o seguinte, explico. O texto sobre Combat samba recebeu um singelo elogio no blog do Mundo Livre S/A e deu no que deu: os fãs mais dedicados transformaram em divã a caixa de comentários. Já os parágrafos sobre o festival goiano foram parar no fórum do Orkut dedicado à revista Bizz (!). Verdade. Sem sacanagem. E quem me defende por lá é um jornalista que eu leio com muito interesse aqui e ali. Estranho.

Isto é: quando termino de escrever um texto, qualquer texto, este texto, e clico em “publicar”, entrego pra deus. Sabe-se lá o que pode acontecer. Qualquer coisa. Inclusive (e principalmente) nada.

Best of

Postado em Atualizado em

The mechanics and poor health of the music industry mean we may never see another platinum-selling rock group like this again. It’s no surprise then that the music industry’s response is to repackage and recycle, as quickly as possible.

A resenha da Pitchfork sobre o greatest hits do Radiohead (lançado contra a vontade do grupo) acabou saindo um resumão muito interessante sobre a história da nossa banda favorita e o estado de coisas da indústria de discos. E a coletânea, fala sério: é pra vender no Carrefour?

‘Artista igual pedreiro’ Macaco Bong ***

Postado em Atualizado em

Você tem todo o direito de perguntar: por que logo o Macaco Bong, um trio cuiabano de rock instrumental, se transformou num dos mascotes preferidos do rock independente brasileiro? É que eles não andam na linha. Fazem o que bem entendem. Escrevem por linhas tortas e borradas. São pedreiros do rock. Operários sem patrões. E assim saem por aí, destruindo os muros que ainda ficaram de pé depois do apocalipse da indústria fonográfica.

Uma banda com a atitude e a sonoridade do Macaco Bong, bom sublinhar, soa ainda mais relevante neste nosso mundo confuso, fora do eixo. O título deste álbum de estréia funciona como um mini-manifesto. Artista igual pedreiro. A síntese de uma época em que não existe mais espaço para glamour, para centenas de toalhas brancas no camarim, para contratos e frescuradas de pop stars. Quais foram os álbuns brasileiros mais relevantes que você ouviu nos últimos meses? O do Wado? O do Júpiter Maçã? O do Vanguart? Todos independentes. Todos construções artesanais.

Antes que eu descambe para uma tese babaca sobre o estado da música pop (e o Macaco Bong funciona como uma bela deixa para esse tipo de falatório), há o disco. Depois de bater ponto em dezenas de festivais, o trio finalmente vai ao estúdio. Para uma banda já expert em performances furiosíssimas – eles me pregaram um susto no Porão do Rock de 2007 com o show mais impactante de uma edição que trouxe o Mudhoney a Brasília -, trancar os demônios nos limites de um CD pode parecer mais como uma maldição que como bênção. Por isso surpreende como Artista igual pedreiro não tem o ranço de uma obrigação, de uma necessidade. O Macaco Bong não precisava ter gravado um disco para provocar boa impressão. Mas taí o álbum, e ele se sustenta.

Adianto: é um patinho feio, um dos lançamentos mais estranhos do ano. A mesma cena cuiabana que abriga o folk transcontinental do Vanguart agora pariu isto: um álbum que mescla, às vezes num mesmo groove, o rock progressivo mais clássico (daqueles que seu pai ouve enquanto lê livros de Economia) com hardcore, jazz e violão herdado da música popular brasileira. É uma obra que, se tudo funcionar direito, agradará e desagradará um pouquinho a todos. Nosso rock independente estava precisando disto: um disco muito livre naquilo que se propõe a apresentar. Em 68 minutos de duração, trata-se de um álbum espaçoso, excessivo, sem estribeiras, com faixas que se entrelaçam e não terminam nunca. É tão sedutor quanto redundante. Um Mars Volta tostado no sol dos trópicos. Um Fugazi sem paciência para ser chamado de pós-rock. Em muitos momentos, acessível – mas de uma forma toda particular.

Uma pedrada. Que vou demorar o resto do ano para digerir. Mas uma pedrada, sem dúvida. Nosso mascote não nos decepcionou.