Dia: junho 4, 2008
Sex and the city – O filme *
Na pré-estréia mais concorrida de todos os tempos, até o vice-governador apareceu para badalar no tapete vermelho de Sex and the city – O filme. Ele e também uma mulher que vestia uma espécie de poodle morto ao redor do pescoço. Matei e poodle e fui ao cinema. E depois dizem que Brasília não é uma cidade estranha.
O filme? Fala sério: que filme? Eu estava acompanhado de seis moçoilas fanáticas pela série e dois marmanjos de primeira viagem. Todos detestaram. Eu, “o crítico”, fui o único a arriscar uma tímida defesa. Os detratores furiosos acusavam: malharam os diálogos rasos, as situações previsíveis, as personagens histéricas e a narração em off, a disparar pérolas da auto-ajuda. Eu contra-atacava: na série, era diferente? Os diálogos sempre foram rasos, as situações sempre soaram previsíveis, as personagens sempre tiveram momentos de histeria e a narração em off sempre pareceu tão dispensável quanto a de Blade Runner. Por que a revolta do séqüito?
Mordido pelo mosquito dos blockbusters, Sex and the city – O filme é longo e desconjuntado. Nisso concordamos. Mas, para os fãs da série da HBO, deveria ter agradado pelo menos um pouquinho. Afinal, trata-se de uma maratona de cinco novos episódios. Não é filme-filme. É tevê por assinatura, no máximo. No primeiro episódio, as quatro amigas nova-iorquina lidam com crises domésticas. Depois, tem o capítulo com um tão aguardado casamento. Mais adiante, elas visitam um resort mexicano (e vivem gags escatológicas típicas de uma comédia dos irmãos Farrelly). Estamos preparados para o especial de Natal, quando as personagens afogarão as mágoas com presunto e fios de ovos? Será a deixa para uma sentimental season finale. Sex and the city, não sei se vocês lembram, sempre derrapou nas season finales.
O propósito deste retorno de Sex and the city é mesmo limitado: o de matar saudades de um programa de tevê que, no máximo, funcionava como um passatempo sem virtudes cinematográficas. Ninguém estará preocupado em dissecar a estética do roteirista e diretor Michael Patrick King, nem em comparar este longa-metragem com comédias românticas de Rob Reiner. Não é possível. Como cinema, é de uma pobreza inquestionável. Já como um especial de tevê, tem alguns bons momentos. É tão grande a sensação de familiaridade provocada por essas personagens (e isso vale também para o novo Indiana Jones) que a platéia não pode fazer muito além de acompanhá-las de muito perto, na alegria e no tédio. Esse mérito não é do filme em si, mas está incluído no combo.
Como ensaio sobre os desejos femininos, admito: Sex and the city me deixa desesperado. Há tantas mulheres que se identificam com a série que só posso supor que, na vida, tudo o que elas querem é: encontrar o grande amor, se casar com um homem rico, assistir a intermináveis desfiles de moda, formar uma família de comercial de margarina, estocar bolsas e sapatos em grandes armários e, finalmente, trepar com astros musculosos de Hollywood. Esse quarteto é tão conservador quanto a espectadora-padrão de novelas das oito. As carolas vestem Prada. Mas a série já era assim, não era? Só espero que a vida não seja.
Fico imaginando se o nosso vice-governador assistiu aos episódios na tevê ou comprou as caixas de DVD. Nova York não é aqui.