Dia: maio 29, 2008
‘Lie down in the light’ Bonnie ‘Prince’ Billy ***
Dizem que este é o melhor de Will Oldham desde o excelente I see a darkness (1999), e ainda não sei se concordo ou discordo. Seria bonito concordar, já que isso renderia um parágrafo bem chamativo, que provavelmente atiçaria a curiosidade de três ou quatro visitantes deste blog. Mas a discografia deste homem da caverna é tão consistente que ainda me parece absurdo subestimar álbuns emocionantes como Ease down the road (2001) ou até o ártico The letting go (2006), que muitos fãs se apressaram a dispensar.
O disco novo de Oldham me deixa bobo, antes e acima de tudo, por prolongar tão dignamente uma bela trajetória. Difícil identificar um auge na carreira de Oldham – parece até que, o tempo todo, ele consegue se manter lá em cima.
Sabe disso quem o acompanha. Não são muitos, admito. A melhor forma de se aproximar do personagem Bonnie “Prince” Billy é o filme Antiga alegria, de Kelly Reichardt. Ele ainda é o homem calvo da barba loura e espessa, que caminha sozinho no calçamento de cidadezinhas tão limpas quanto entediantes. Mas, em Lie down in the light, ele não se incomoda tanto quanto antes com dilemas existenciais, com o vazio do mundo. Ainda sofre com amores fracassados (repare a briga de casal de You want that picture, narrada com ranço amargo à Dylan), mas tenta encontrar consolo na companhia de amigos (A letra de Easy does it é quase ensolarada), da família (You remind me of something é uma das canções mais simples e bonitas que já escreveu).
Há quem identifique nesse discurso menos sombrio uma nova fase para Oldham, mas não vejo exatamente isso. Seria simplificar a história toda. O álbum está longe da leveza e a serenidade de um Nashville skyline (de Dylan), e não quer soar definitivo como um After the gold rush (de Young). Não provoca o susto nem desperta as revelações de I see a darkness, apesar do esmero da produção de Mark Nevers, do Lambchop. Em comparação a The letting go, pode soar até como um retrocesso, já que o compositor deixa a aventura européia para retornar a um playground bem particular, interiorano, tingido de country e folk. Há duas, três obras-primas que nos levam às lágrimas logo nos primeiros acordes – mas é o que costumamos encontrar em discos de Bonnie “Prince” Billy, não é?
Eis um anti-ídolo que nos mimou e continua nos mimando demais.
Ranking anos 2000
Em breve, a Liga dos blogues cinematográficos vai divulgar o ranking dos melhores filmes produzidos desde o ano 2000. Eu, que participo da confraria e tenho compulsão por listas (apesar das tentativas de não me deixar dominar pelo vício), estou na brincadeira. O ansioso aqui formatou o top 20 de uma tacada só, sem esquentar muito a cabeça para detalhes e pronto para lamentar as ausências mais sentidas (os Tenenbauns e o melhor filme de Steven Spielberg são apenas dois exemplos). Sem mais, aí vai o resultado desse balanço sentimental.
1. Elefante (2003), Gus Van Sant 2. Cidade dos sonhos (2001), David Lynch 3. As coisas simples da vida (2000), Edward Yang 4. Kill Bill, vol. 1 (2003), Quentin Tarantino 5. Plataforma (2000), Jia Zhang-ke 6. A última noite (2002), Spike Lee 7. Um filme falado (2003), Manoel de Oliveira 8. Antes do pôr-do-sol (2004), Richard Linklater 9. Não estou lá (2007), Todd Haynes 10. Amantes constantes (2005), Philippe Garrel 11. Império dos sonhos (2006), David Lynch 12. O quarto do filho (2001), Nanni Moretti 13. Amor à flor da pele (2000), Wong Kar-wai 14. A viagem de Chihiro (2001), Hayao Miyazaki 15. Sobre meninos e lobos (2003), Clint Eastwood 16. A esquiva (2003), Abdellatif Kechiche 17. Marcas da violência (2005), David Cronenberg 18. Dez (2002), Abbas Kiarostami 19. Onde os fracos não têm vez (2007), Joel e Ethan Coen 20. Lady Chatterley (2006), Pascale Ferran