‘Stay positive’ The Hold Steady ****

Postado em Atualizado em

Entenda o título deste belo, belo álbum como uma grande ironia.

É que, aqui, nada vai bem. Boys and girls in America (o outro disco quatro-estrelas do Hold Steady, quem não ouviu é mulher do padre) era sobre a juventude despedaçada, que bebe muito e dorme tarde. Este Stay positive narra o capítulo seguinte: a festa termina, os remédios não fazem mais efeito, a idade começa a pesar, os sonhos de adolescente evaporam e torna-se inevitável conviver com um batalhão de fantasmas. É um álbum difuso, menos controlado que o anterior e, por isso, menos convidativo. Até a galeria de personagens que costumavam habitar as canções de Craig Finn agora se escondem nas sombras, se perdem no matagal, não ousam revelar nomes.

Nesse contexto, a frase “stay positive” não deve ser interpretada como grito eufórico de guerra ou como filosofia reggae-power – é lema de desesperados, slogan para encontros de ex-dependentes químicos e conselho para gente em perigo (“Meus amigos que não morreram estão quase lá”, avisa a faixa de abertura, também ironicamente intitulada Constructive summer). O quarto trabalho do Hold Steady joga com opostos: as melodias às vezes se inspiram até em power pop (Navy sheets, aliás, poderia estar num álbum do Weezer ou do Fountains of Wayne) e os arranjos se adaptam alegremente a instrumentos pouco convencionais (em One for the cutters, há até cravo, à Joanna Newsom). Mas esse rock setentista e festivo embala tramas duras, de desilusão – não há mais leveza neste retrato da vida interiorana, de rotinas sem-futuro.

É por essas e outras que o Hold Steady continua uma banda de versos, de poesia. As letras são quase tudo. Só depois nos preocuparemos com melodias e ao trabalho de produção (este álbum tenta alguns caminhos novos para o quinteto, mas ainda soa no máximo como um disco do Bruce Springsteen). Não teria como ser diferente. Finn é um dos melhores letristas desta geração (talvez o melhor), com talento gigantesco para desenhar climas e descrever personagens. Em Lord I’m discouraged, ele assume com convicção o papel do homem que não tem mais forças para cuidar da mulher que ama (e escrever com sutileza sobre abuso de drogas é uma das tarefas mais difíceis no rock). Já One for the cutters é praticamente um conto policial dirigido por Gus Van Sant, com mortos na floresta e interrogatório na delegacia. Algo, no mínimo, raro de se ouvir.

Se não tem hinos perfeitos como Stuck between stations, este é um álbum que faz perfeito sentido na trajetória do Hold Steady. Poderia muito bem fechar um arco narrativo, uma saga em tom menor. “Nós fazemos nossos próprios filmes”, avisa a faixa de encerramento, Slapped actress. Sobem os créditos, mas a vida continua.

4 comentários em “‘Stay positive’ The Hold Steady ****

    Daniel Pilon disse:
    maio 27, 2008 às 8:13 pm

    Eu adorei esse. Quase atribui nota máxima. E tá lá em cima da lista junto com Drive-by Truckers.

    Tiago respondido:
    maio 27, 2008 às 8:55 pm

    Pois é, Hold Steady e Drive-By Truckers são bandas muito próximas até por serem algumas entre poucas interessadas numa tradição do rock que narra histórias, compõe personagens etc. Mas eu prefito o anterior do Hold Steady, e espero pacientemente pelo dia em que eles encontrarão um bom produtor. Com um Scott Litt da vida, este disco poderia ter virado um “Automatic for the people”. Ainda assim, é ótimo.

    lucas disse:
    junho 17, 2008 às 6:15 pm

    Olá. Desculpa a invasão, mas baixou o álbum por onde?

    Tiago Superoito respondido:
    junho 17, 2008 às 6:23 pm

    Soulseek

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s