Dia: maio 22, 2008
Indiana Jones e o reino da caveira de cristal **
O melhor Indiana desde Os caçadores da arca perdida? Ahn. Não.
Eu me esforcei, pessoal. Garanto que me esforcei. Para cair no choro com a trilha de John Williams, para lembrar dos bailes de carnaval da minha infância (a fantasia com chapéu-e-chicotinho era uma tendência), para retornar a uma era de arrasa-quarteirões ingênuos e aventureiros, para comprar o marketing da Universal Pictures e sentir muita saudade. Até fiz contatos imediatos com minha abobada criança interior. Ainda assim, para este espectador ranzinza aqui, o novo Indiana Jones deixou a impressão de ter se esforçado sobrenaturalmente para fechar um combo que inclui uma pipoca média sem manteiga, um copo de coca-cola quente, o espírito pulp desvairado de O templo da perdição, as lições de paternidade de A última cruzada e um punhado de guloseimas recicladas dos primeiros filmes de Steven Spielberg e George Lucas. Muito barulho por muito barulho.
E escrevo isso sem recorrer ao discurso de quem vê neste filme um repeteco automático das fórmulas dos longas anteriores. É e não é. Steven Spielberg tem 60 anos de idade. Harrison Ford, 65. George Lucas, 64. É inevitável que O reino da caveira de cristal acabe por refletir os quase 30 anos que se passaram desde Os caçadores da arca perdida. O que há de melhor nesta seqüência é como Spielberg, Ford e Lucas remetem ao passado do cinema de entretenimento com a consciência de que é possível brincar com a sensação de nostalgia que paira entre os fãs da série e os donos da franquia. Não é um filme ambientado em uma antiga Hollywood – é, até certo ponto, um filme sobre uma antiga Hollywood.
É com muito gosto e ao pé da letra, aliás, que o trio assume essa aparência “à moda antiga” (e é necessário falar em aparências num filme que é todo, todo assumidamente artificial). Numa ótima primeira metade, até a fotografia de Janusz Kaminski revela um punhado de referências a cada quadro. É como se Spielberg compilasse tresloucadamente símbolos da cultura pop do final dos anos 1950, época em que a trama se desenrola. Um belo exercício formal (e aí entra a caricatura de Cate Blanchett, que se enquadra muito bem a esse projeto). Até esse ponto, o filme chega a dialogar com Planeta terror, de Robert Rodriguez – só faltava Lucas usar efeitos visuais para simular imagens de negativos riscados. Toda a seqüência da explosão nuclear, que começa com Indiana Jones desnorteado numa cidade de bonecos de plástico, vale por cinco Guerra dos mundos.
Acontece que, exatamente na metade da trama, exatamente quando os personagens tomam um avião para a América do Sul, essa disposição auto-referencial começa a cansar Spielberg e o público. Perde o ânimo. São gritantes as diferenças entre a primeira parte do longa e a segunda, quando O reino da caveira de cristal tenta se alinhar ao tom aos longas anteriores da série e acaba soando como um episódio de empoeirada série de tevê. É aí que o filme exige do público um tipo de cumplicidade que só os fãs mais perserverantes de Spielberg serão capazes de oferecer. Serão eles, e apenas eles, que descontarão a redundante ode às relações familiares que o cineasta já transformou em marca, em tique, em cartão de visitas. E também serão eles que passarão por cima das desengonçadas cenas de ação na selva (que chegam a lembrar Roland Emmerich) e de um desfecho que parece até piada interna, viagem em torno do umbigo.
Para mim, que não sou fã de Spielberg, foi como assistir à lenta demolição de um lindo prédio empoeirado. Ou de uma monumental atração retrô da Disney, como preferir.