Dia: maio 21, 2008

‘Smilers’ Aimee Mann *

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O sujeito que senta ao meu lado no trabalho viu Magnólia, gostou muito do filme, mas não lembra das canções de Aimee Mann. “Como assim, rapaz? As canções de Aimee Mann são o filme“, eu retruquei. Depois de ouvir umas tantas vezes este Smilers, entendi que o lapso de memória do meu colega é absolutamente digno: há quem mereça ficar nas nossas lembranças (Paul Thomas Anderson) e há quem não mereça (ahn, bem, hmm). O cérebro é uma máquina maravilhosa, mas não conheço quem dê conta de guardar tudo.

Infelizmente (e digo isso com dor no peito), Aimee Mann já não merece tanta atenção. Isso desde o momento em que abandonou a parceria com o produtor Jon Brion e decidiu escalar meros operários para ornamentar canções que precisam encarecidamente de interlocutores criativos que saibam cuidar delas com muito carinho. Sem um bom editor, a cartilha de Mann cai facilmente em redundâncias. Este Smilers soa como mais um álbum redundante dentro de uma carreira redundante. Triste escrever isso sobre uma compositora talentosa como poucas da geração 90.

Desde Lost in space (2002), os discos da cantora perderam em consistência e colorido. São polaróides desfocadas. O anterior, The forgotten arm (2005), ainda tinha algum charme (mas fracassou feio na tentativa de amarrar uma narrativa com início-meio-fim). Para os novatos, Smilers não incomodará, e possivelmente se sairá bem com a crítica: é mais um álbum inofensivo e agradável levado na valsa por uma musa atormentada. Para quem acompanha a carreira de Mann, guarda nas entrelinhas um grito de socorro. Ela precisa de ajuda, e aqui não falo de crises existenciais ou amorosas.

O desabafo poético que inspirava comoção nos personagens de Magnólia retorna em forma de chavão. São muitos. “Você me ama como uma nota de um dólar”, comenta a personagem de Phoenix. “Tudo o que faço é errado”, rebate a de Freeway. “Eu pensava que as coisas seriam diferentes de alguma forma”, lamenta a trintona de 31 today. “No dia em que você foi embora e me chamou de vaca, eu te chamei de egoísta”, confessa a vítima de Medicine wheel, com perfil para sentar no sofá de Oprah Winfrey.

Mann continua a contar essas histórias de gente à beira do abismo. Às vezes, ainda nos machuca. No caso, o método masoquista da compositora só rende dois momentos memoráveis: a baladona It’s over, sobre o difícil processo de se acostumar a uma separação, e a despretensiosa Balantines. Mas a falta de um bom produtor só faz ressaltar a magreza das canções. Torço para que, com urgência, Mann trate essa arte com algumas sessões de terapia. Jon Brion tem espaço na agenda?

Clipe: ‘Hearts on fire’ Cut Copy

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A música se chama Hearts on fire, mas a idéia deste clipe dirigido por Nagi Noda parece ter saído de uma friorenta e melancólica canção do Travis. Especialmente de Why does it always rain on me? O truque é simples e surte efeito. No mais, sempre vale a lembrança de que é preciso voltar ao álbum In ghost colours, uma das belas surpresas de 2008.

Vida pessoal

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Odeio aparecer no vídeo. Sou um desastre com lentes, closes, planos americanos.

Fico com cara de menino carente em campanha do agasalho. Com medo, indefeso, pedindo ajuda, um horror. Feio, feio. E não sei ler teleprompter direito. Me sinto um hamster correndo atrás de palavras.

Stand-up, então, é pior ainda. Memorizar aquilo tudo e ainda olhar pro raio da câmera. Quando me formei em Jornalismo, meu pai perguntou: “Quando é que você aparece no Jornal Nacional, filho?” Nunca, pai. Se tudo der certo, nunca.