Dia: maio 19, 2008
Efeito dominó **
Leia nas entrelinhas do circuitão, meu caro. Eis os desejos mais sujos e secretos do espectador brasileiro (e desculpem a rima pobre): roubar um banco e casar de branco.
Na noite de domingo, o multiplex mais tumultuado da cidade me encarou com essas duas opções. São as únicas que temos? Dispensei O melhor amigo da noiva e entrei na sala de Efeito dominó, que conta a história (inspirada em tipos de carne e osso) de um assalto a banco em Londres, em 1971. Decidi assim: antes as três caretas imutáveis de Jason Statham que o timing cômico do galã de Grey’s anatomy. No fim das contas, vi um filme de golpe até passável, que oscila entre os tiques desse subgênero e algumas tentativas (surpreendentemente dignas) de superar o fantasma de Onze homens e um segredo.
Thrillers sobre planos perfeitos (ou quase perfeitos) geralmente se concentram nos preparativos para o Grande Trambique e na forma engenhosa como a armação toda é colocada em prática. Efeito dominó estica essa cartilha ao usar o roubo como mote para uma trama que envolve um sem-número de intrigas e escândalos políticos. É um circo filmado como tal – com escracho, piadas de duplo sentido e uma galeria de personagens patéticos. Nesse tom pateta, no riscado despretensioso de quem pinta uma charge e assim despreza as formalidades do “fato real”, Roger Donaldson (de Sem saída) vai bem. Ainda que, nos momentos mais excessivos, acabe por retornar a um território já esgotado por Snatch, de Guy Ritchie.
Mas está longe de roubar nosso dinheirinho suado. Não é um passatempo ofensivo. De qualquer forma, volto à pergunta chata: é tudo o que nossas distribuidoras têm a nos oferecer? E o Romero novo? E Southland tales? E nossos outros desejos secretos e sujos? Próximo capítulo: noivas, flores e buquê.
Carne e osso
Saiu um comentário bem simpático (ainda que exagerado – não sou tudo isso, gente) sobre meu modesto blog num jornal de Sorocaba. O que mais me impressionou foi uma referência à minha identidade mui misteriosa. “Sobre ele, pouco se sabe”, diz o texto. Bem. Er. Fiquei parecendo personagem da Marvel, diz aí.
Olha, não há drama. Sou carioca, tenho 29 anos de idade, moro em Brasília, namoro uma moça linda e inteligente, não tenho multas de trânsito, pago minhas contas em dia, sou viciado em chocolate, sei tocar violão porcamente, me formei em Jornalismo e trabalho num jornal aqui da cidade. Tá bom ou querem mais? Quando eu tiver tempo, atualizo a página “About” ali em cima pra ninguém ficar me enchendo a paciência. Preciso esclarecer essas coisas ou daqui a pouco viro uma espécie de fantasma. Não vai pegar bem. E tenho um nome a zelar.