Dia: maio 10, 2008
Lost: Cabin fever ***
Aos que esperavam apenas um aquecimento para o desfecho da temporada, o episódio cai feito bomba – ainda que de efeito retardado. Até agora, a série dava a entender que investiria pesado no conflito entre Ben e Widmore, dois vilões interessados no controle da ilha. Este Cabin fever amplia esse ringue ao destacar um personagem injustamente relegado à condição de coadjuvante nos capítulos recentes: o bom e velho John Locke.
E o que Locke teria acrescentar às truculentas batalhas desta temporada? Se depender deste episódio, tudo. Desde sempre, é ele o tipo mais misterioso e imprevisível entre os sobreviventes. A história do personagem deixa tantas lacunas, e sugere tantos desdobramentos, que os roteiristas se aproveitam de um perfil que soa cada vez mais complexo. Compare esse homem de intenções duvidosas com as crises existenciais de uma Kate, por exemplo. Ou de um Michael. Ou até de um Jack (bebedeiras? Tsc). Todos saem perdendo em matéria de traumas e cartas na manga. Este episódio existe para nos lembrar que, acima da guerra que se trava na ilha, há um angustiado super-herói entre nós.
Até pelo peso que Locke recuperou, o episódio cresce absurdamente nas cenas que ele monopoliza. O apelo a uma estrutura mais convencional de flashbacks, por exemplo, vem muito a calhar. Descobrir o passado do personagem é como virar as páginas de um gibi da Marvel. Está claro que ele tem superpoderes. A maior agonia do menino (e, mais tarde, do adolescente) é não aceitar ser enquadrado no rótulo de “especial” e, com isso, acabar excluído do convívio social. O que acaba nos remetendo imediantemente aos mutantes de X-Men (e aos tipos apalermados de Heroes, mas essa é outra história). Não deixa de ser um lugar-comum. Mas será interessante acompanhar a interação desse tipo à HQ com os outros habitantes da ilha, que lidam com habilidades menos extraordinárias.
Não vou nem comentar as pendengas entre Michael e o time de soldadinhos que quer mandar o mundo para o beleléu. Isso nem interessa muito – pelo menos não no episódio em que Locke toma a dianteira e deixa uma dezena de questões escancaradas. A cena em que Ben avisa que Locke deve entrar na cabana sozinho soa como uma troca de bastão. Já a confusão entre realidade e alucinação se faz cada vez mais forte (as pessoas de dentro da cabana são fantasmas? A Claire é bipolar? E o que o monstro de fumaça tem a ver com tudo isso?). A fala que encerra o episódio, cereja do bolo, é antológica dentro da mitologia da série. Deixa a impressão de que, nos próximos episódios, alguém vai reinventar as leis da gravidade. Se isso acontecer, juro que não vou reclamar.