Dia: maio 9, 2008
‘Anywhere I lay my head’ Scarlett Johansson **
Ei, surpresa: o álbum de Scarlett Johansson não é uma tarde num karaokê em Tóquio. É uma madrugada melancólica num cabaré em Manhattan. Quase um filme de amor – sob comando de Tim Burton, em dia especialmente cruel.
Melhor: o diretor de Anywhere I lay my head atende por Dave Sitek. O homem que opera a mesa de controle do TV On The Radio produz o álbum e cria toda uma encenação fantasmagórica que remete aos contos de fadas perversos dos irmãos Grimm. Já o roteirista é Tom Waits, autor de quase todas as faixas, sacadas de álbuns como Bone machine e Rain dogs. O guitarrista Nick Zinner, do Yeah Yeah Yeahs, faz as vezes de coadjuvante de luxo. David Bowie aparece numa ponta. Nessa produção indie (distribuída por grande estúdio), Scarlett faz o que sabe: atua. Interpreta a Chapeuzinho Vermelho na floresta dos lobos.
Este é um disco de atriz.
Para um álbum que sugere lembranças de Nico (com Velvet Underground) e Brigitte Bardot (com Serge Gainsbourg), o resultado poderia ter sido desastroso. Mas não. Scarlett parece ter aprendido no metiê cinematográfico que uma equipe bem escolhida é meio caminho andado. E demonstra bom senso ao tentar uma performance em frangalhos, toda torta, com um vozeirão grave que parece sempre prestes a desabar, sem virtuosismo – haveria outra forma de homenagear Tom Waits?
Para justificar as duas estrelinhas (este é um álbum que passaria tranquilamente pelo teste das três estrelas), uma birra pessoal: Sitek, o produtor queridinho da estação, ornamenta tanto as canções que, em alguns momentos, se engasga nos próprios excessos. Por isso mesmo, só consigo ouvir o disco em doses homeopáticas, e sem me envolver muito com a trama. Mas aí é comigo. Não vou ficar negando não: por isto aqui, Scarlett merece uma indicação ao Independent Spirit Awards.