Dia: abril 30, 2008
‘Evil urges’ My Morning Jacket **
Não sou o responsável pelo diagnóstico, mas me sinto obrigado a concordar com ele: você ouvirá alguns álbuns esquizofrênicos este ano, mas poucos parecerão tão arriscados quanto este Evil urges, o quinto trabalho do My Morning Jacket. A aparência é mesmo essa aí – a de um disco robusto e inventivo, uma jornada sem destino definido. Mas preciso contar um segredo antes de seguirmos adiante: depois de algumas audições, ainda não consigo enxergar o fiapo que une essas 14 canções. E nem estou certo de que exista algum.
Outro dia elogiei o álbum do Dodos por motivo parecido: ele me conquistou por apontar várias direções musicais para um grupo ainda em processo de formação. O caso do My Morning Jacket é um pouco diferente. A banda que consagrou um certo estilo (o alt.country com ecos e delírios psicodélicos) e agora faz um esforço danado para negar essa marca e se firmar como uma gangue de artistas-garimpeiros, inclassificáveis, livres de obrigações estéticas, movidos pela curiosidade.
Esta é a intenção que tentam colocar em prática desde Z, de 2005. Como continuação daquele projeto, Evil urges não frustra em nada: é, por definição, irregular. “Meu objetivo é apresentar às pessoas estilos diferentes de música”, comentou o vocalista Jim James à Rolling Stone. Na entrevista, ele se compara a Wilco, Pearl Jam, Björk e Radiohead. Fiquemos com Pearl Jam e Wilco, bandas que tentaram se reinventar dentro de certos limites, sem abandonar por completo o aconchego do lar. O My Morning Jacket segue essas instruções à risca, o que faz de Evil urges uma intensa (e às vezes exagerada) demonstração de tudo o que a banda pode e quer fazer neste exato momento.
Como o anterior, é um disco que consigo admirar, mas com certo distanciamento (o que não acontece com o caloroso e relativamente simples It still moves). Só existe uma música que me tira do sério, e é uma balada até convencional (Smokin’ from shooting, com uma viradinha genial de bateria). As outras exibem belos conceitos, mas sem a substância que pelo menos eu esperava deles.
Não chega a ser uma decepção, já que as provocações do My Morning Jacket soam mais interessantes que a dúzia de grupos parecidos que eles acabaram apadrinhando. E não dá para negar o impacto de um álbum que começa com climas à Radiohead (a faixa-título), segue rumo aos anos 70 do Fleetwood Mac (Touch me I’m gonna scream), descamba num funk que parece uma mistura de Prince com Talking Heads (Highly suspicious), presta homenagem declarada aos Carpenters (Librarian), passeia pelo Neil Young rural de Comes a time (Sec walking) e ainda arruma espaço para baladonas que caberiam num disco do Lionel Richie (Thank you too) ou do Ryan Adams (Two halves). Uma infinita jukebox.
Não duvide: qualquer texto sobre Evil urges será longo e abarrotado de nomes de outras bandas. Estou impressionado até agora. Mas é essa a missão de um grupo que quer soar diferente de todos os outros?
24 horas
Gosto de 24 horas, o seriado, por ser igualzinho à minha vida. Tudo. Tudo igual.
Ok, não sou agente especializado em causas tenebrosas, minha família não é seqüestrada de cinco em cinco minutos e não estou no alvo (até segunda ordem) de nenhum plano terrorista de alcance mundial. Mas, de resto, as semelhanças são inacreditáveis. São tantos eventos, tantas reviravoltas emocionais, tantas surpresas e pentelhações mil que produtores atentos poderiam muito bem escrever uma temporada inteira com os tantos desastres que cabem num dia inteiro vivido por este aqui, euzinho da silva.
Até meu café da manhã daria o trecho de um episódio três-estrelas. De cinco e meia da manhã às cinco e quarenta e cinco, vejam o script: deixo o pão esquentando, pego manteiga na geladeira, abro o suco de laranja, quase derrubo a geléia, desligo o alarme enquanto procuro o presunto, corro para recolher o jornal, tiro o pão do forninho antes que ele queime, engulo o pão em duas mordidas, sinto a pontada no intestino, meu olhar dá um corte rápido para o relógio, estou atrasado, estou atrasado, a cena pula para a porta da geladeira aberta, volto correndo para fechá-la e, lá dentro, surpresa, horror, percebo que há algo podre. Há algo podre. Há algo podre. E agora? É aí que minha vida se divide em três telas pequenas e retangulares, simulatâneas. Bip. Bip. Bip. 5:45.
Precisando, Kiefer Sutherland, estou aí.
P.S.: Mudei o layout ali do alto do blog, não sei se ficou bacana nem estiloso nem rock ‘n’ roll. No meu computador está um pouco pesado para carregar, mas não consigo que fique mais leve (entendo os mecanismos do WordPress só até certo ponto). Se alguém souber como me ajudar, por favor.
Go, Speed Racer
O Diego, que não mora na roça, foi ver a pré-estréia do Speed Racer hoje pela manhã. Perguntei por e-mail: ‘E então, o filmezinho presta?’. E ele me respondeu mais ou menos assim (e aqui não entra uma música do Raul Seixas, calma aí):
Puts, gostei!
Bobinho de tudo, mas visualmente espetacular e com um calor humano muitíssimo bem vindo das atuações de Susan Sarandon, John Goodman e Christina Ricci. A trilha do (Michael) Giacchino é ótima e cita a canção-tema original em diversos momentos. Tô com ela na cabeça até agora.
O Emile (Hirsch) tá apagado, visivelmente não aguenta o tranco de segurar um filme desses. Mas os Wachowski conseguiram se livrar do Matrix com facilidade, até. Mandaram bem aproximando filme e desenho animado de uma maneira arriscada, deixando os efeitos com uma cara 2D/psicodélica/colorida feito um episódio do Teletubbies e com transições de cenas que homenageiam diretamente a série.
(Assim: se aquele episódio do Pokemon fez estragos com epiléticos, esse filme vai transformar todo mundo em zumbi, no mínimo).
Sério mesmo? Mesmo-mesmo? Então me animei.