Dia: abril 29, 2008
Vida pessoal
Está no top 5 das piores sensações do mundo: acordar às cinco da manhã. Por qualquer razão. Dá vontade de enfiar uma bala na cabeça. Explodir junto com uma estação de metrô. Voltar pro útero da mamãe. Pular da janela.
Bom dia pra você também.
Três vezes amor **
Comédias românticas também te deprimem?
É que, vejam bem, a vida não funciona assim. Você não se muda para Nova York e, num estalo, ganha dinheiro, faz milhões de amigos, influencia pessoas e vira um bom partido. Você não perde o emprego, cai na pindaíba e curte um longo período de depressão num apartamento bonitão (cujo aluguel, aqui em Brasília, sairia por uns R$ 900). Você não veste o pullover mais estiloso para passear no parque às tardes. Você não corta o cabelo todas as manhãs para mantê-lo aparado e moderno. Você não sabe exatamente como combinar todas essas roupas caríssimas de marca que usa com tanta graça – terno com gravata com calça com camisa e o maldito pullover. Pior: você não tropeça dia-sim-dia-não em mulheres maravilhosas que, quem sabe!?, se transformarão no grande amor da sua vida. Não. E não.
O herói de Três vezes amor se divide entre mulheres maravilhosas. O acaso afastará os pombinhos, mas o importante é que elas, as mulheres maravilhosas, nunca irão virar para ele e cobrar detalhes que todas, todas as mulheres cobram – estabilidade financeira, estofo emocional, unhas religiosamente cortadas, papo interessante, bom humor e o que mais? -, já que o sujeito é simplesmente um bom partido. Elegante e estiloso. Ao sortudo da vez, será garantida toda a estrutura financeira e psicológica que eu e você nunca teremos em nossas vidas. Satisfeitos? Ou já caíram no choro?
Tenho que admitir, porém, que Ryan Reynolds veste com competência esse papel inverossímil (como todos, em comédias românticas). Ele parece boa-praça. E, em comparação a um Keanu Reeves, merece até um Bafta. É fácil ficar do lado de um ator que torrou milhagens em comédias grosseiras e irrelevantes para chegar até aqui. Ao vencedor, os ternos impecáveis.
Reynolds contracena com Abigail Breslin, a pequena miss sunshine. Ela interpreta a criança faladeira e sabichona que sempre existe em comédias românticas (quando não são substituídas pela melhor amiga neurótica). É a filha tão perfeita que, se bobear, não ronca nem faz birra. É sapeca e divertida, nunca inconveniente. O pai retribui o carinho contando histórias emocionantes sobre a própria vida. De quando, por exemplo, trabalhou na campanha presidencial de Bill Clinton servindo café.
Pois é: trata-se de um filme de época, para o desespero de quem viveu os anos 90 e hoje se sente velho (talvez precocemente).
Para fazer justiça ao período histórico retratado, os personagens ouvem Come as you are e usam telefones celulares do tamanho de walkie talkies. Sorte a deles, que são endinheirados e modernos e estilosos. Uma das três mulheres é uma repórter talentosíssima. Outra é uma globetrotter que, mesmo depois de dar a volta ao mundo, aparece sempre muito bem vestida. A terceira não faz nada de muito importante, mas parece saída de um anúncio de colar de diamantes. Se um desses tipos calhasse de se revelar um alienígena, eu não me surpreenderia. Não dá para acreditar em nenhum deles. Mas a gente acredita.
Por exemplo: quando Reynolds dá o último suspiro de desânimo diante das recusas da mulher que ama, a gente sofre junto. É sempre assim. Há o momento em que um personagem corre de encontro a outro, e corre com o entusiasmo de quem se apressa para sacar o prêmio da loteria. E a gente quase se emociona, ou desaba logo, já que esse simples movimento da corrida de um personagem (ao aeroporto, à estação de trem) evoca tantos sentimentos que, raios, tanto faz a falta de lógica da trama ou a cara-de-pau do roteirista. Estamos todos lá, de quatro para a velha fórmula.
Para mim, o resultado da experiência é sempre deprimente. Me sinto um pouco vulnerável todas as vezes. Meu coração é de papelão. Ao final da sessão deste Três vezes amor, a senhora de 70 e poucos anos da poltrona à frente enxugava as lágrimas. Mas por quê? Será que ela sabe o motivo? Será que ela se pergunta sobre isso? Assistimos a filmes assim para quê? Para automaticamente nos emocionarmos? Ou são eles, os filmes, que sempre nos pegam de surpresa ao despertar nossas fantasias mais tolas, mais inocentes, mais improváveis e também mais tristes? Na próxima comédia romântica, tento uma resposta.