Dia: abril 28, 2008
‘In ghost colours’ Cut Copy ***
Primeira impressão: hmm, é um pastiche do pop dos anos 80. Segunda impressão: ei, é um pastiche do pop dos anos 80. Terceira impressão: é um pastiche do pop dos anos 80! Quarta impressão: é um pastiche do pop dos anos 80, viva!
Mas não, o segundo álbum deste trio australiano – comandado por Dan Whitford, que co-produz o disco um little help do amigo Tim Goldsworthy, da DFA Records – não é mero pastiche do pop dos anos 80. Isso fica bastante claro lá pela quinta audição, quando notamos que a graça do projeto está em dar um Ctrl+C em cacos musicais do passado e adaptá-los, com um clique no Ctrl+V, a contexto bastante atual. O nome da banda é exato, não duvide dele.
Whitford, que saiu em turnê com o Daft Punk, aprendeu com os franceses que existe uma arte de copiar e colar, e que dominar esse processo é mais tortuoso do que parece. O Cut Copy tem sim aparência de New Order, gosto de Duran Duran e o perfume barato de canções que você ouvia, aos cinco anos de idade, em estações de rádio AM. O importante é como o grupo trabalha essas lembranças: com a doçura e o bom humor de álbuns como Darkdancer, do Les Rythmes Digitales, ou D-D-Don’t stop the beat, do Junior Senior.
Mais surpreendente é – lá na décima audição – descobrir que, quando a maquiagem escorre, o Cut Copy deixa à mostra canções nada magrelas. Feel the love, Lights and music e Hearts on fire são hits para um mundo perfeito. Mas o melhor é quando, entre uma e outra tentativa de mirar a perfeição pop, Whitford se diverte. É dessas despretensiosas experimentações que saem os momentos mais memoráveis do disco. Como na ensolarada Unforgettable season, que empapa gel e confete no power pop do Phoenix, na psicodélica So haunted e na tola Far away, que a Madonna venderia a alma para ter incluído em Confessions on a dance floor.
É um discão (até em largura, com 15 faixas e 50 minutos de duração). Mas isso você só vai perceber por volta da vigésima audição.
Peso do mundo
Num fim de semana em que nada deu certo, ainda tive que enfrentar o fato de que eu talvez seja uma das cinco pessoas do país que não estão nem aí para quem jogou ou deixou de jogar a menina da janela.
Isso faz de mim um monstro?