Dia: abril 26, 2008
The shape of things to come ***
Há o grupo dos que vêem esta quarta temporada como uma espécie de ressurreição criativa de Lost – não sei ainda se faço parte dele. Não discuto, porém, o fato de que estamos num momento de transformação para a série, que se viu obrigada a abandonar um certo modelo narrativo para se adaptar a um formato mais compacto, de poucos episódios. Em outros carnavais, as temporadas eram divididas em três grandes blocos: à da introdução do conflito principal, seguiam o desenvolvimento e a conclusão. Agora, quase todo capítulo já chega com a pompa de uma season finale: carregados de reviravoltas, ação desembestada e desfechos bombásticos. Os que fogem dessa regra acabam soando simplesmente desnecessários (e até o anterior, com o perfil redundante do Michael, terminava com uma explosão).
Chamem-me de nostálgico ou do que for, mas não sei se prefiro esses novos tempos. Para abraçar a quantidade de personagens sem lapsos de lógica ou soluções forçadas de roteiro, uma narrativa mais folgada faz mais sentido. De qualquer forma, essa mudança trouxe uma nova pegada para a série, mais urgente e bruta. O tom, ainda que sem sutilezas, combina como uma temporada de conflitos violentos, molhada de sangue.
É por essas e outras que este novo episódio me parece um dos mais importantes da safra: ele finalmente banca essa nova direção da série, à Mad Max 2. Esta é, acima de tudo, uma história de guerra, de salve-se quem puder. E, maniqueísta como uma HQ de super-heróis, polarizada entre duas forças: o maquiavélico Ben e o milionário excêntrico Charles Widmore. Todos os conflitos da temporada (e talvez os das próximas) gravitarão em torno dessa dupla de personagens. A maior missão dos roteiristas, daqui em diante, é nos convencer de que valeu esperar tanto tempo para isto: testemunhar um jogo de gato e rato. Aos que esperavam respostas místicas e mirabolantes às questões mais obscuras sobre a ilha, pode parecer uma guinada até frustrante.
Mas não aqui, não neste capítulo. Coerente com o espírito truculento da temporada, o episódio vai direto à carnificina e, nos intervalos do tiroteio, explora a psiquê de alguns dos tipos principais da trama. A perversidade de Ben (o centro da série, cada vez mais) leva um golpe cruel com a decisão de brincar com a vida da própria filha. Enquanto isso, a confiança de Jack nos forasteiros desaba numa cena que, curtinha e dolorida, diz muito sobre o futuro do personagem. Isso sem contar os detalhes do encontro entre Ben e Sayid, quase um “acordo de cavalheiros”. O capítulo poderia até ter terminado sem a explicação para o “monstro de fumaça” ou a ótima cena do encontro entre Ben e Widmore, mas tudo isso acaba confirmando que esta é a temporada do excesso de informações. Vale lembrar que o grande enigma da primeira temporada era saber o que havia dentro de uma escotilha.
Contanto que essa overdose não dê num daqueles episódios esquizofrênicos de Heroes, vamos bem.
Post do exílio
Não lembro, mas acho que foi o Renato Russo quem observou: Brasília é a cidade dos que dizem adeus. Conheço gente que anda sofrendo com isso. Num período curtíssimo (uma semana, menos), dois grandes amigos dessa pobre alma anunciaram a partida. E para longe. Não foram os primeiros, não serão os últimos. Deveríamos estar preparados. Mas nessas horas me engasgo. Aí recorro, como sempre, ao chavão. Brasília é a cidade dos que dizem adeus, é assim mesmo e sempre foi, culpe JK, Renato Russo já dizia e ele estava certo e estava certo como em poucas outras vezes ainda que eu não saiba se ele realmente disse isso nem quando e lalala.
Outro dia pensei em escrever um livro sobre Brasília em que cada capítulo seria fechado com a despedida de um personagem. E teria uns 70 capítulos. Parágrafo, parágrafo, parágrafo, parágrafo e despedida. Parágrafo, parágrafo, parágrafo, parágrafo e despedida. Eu avisaria na introdução: cada capítulo terminará com uma despedida. Bem didaticamente. Tipo Nick Hornby.
Sei que é burrice revelar esses planos num blog, nesse planeta de espertinhos. O primeiro malandro que digitar no Google ‘tiago superoito’, ‘projeto de livro’, ‘brasília’ e ‘despedida’ chegará a este post, roubará a idéia e se transformará no próximo Daniel Galera ou, na sorte, num Paulo Coelho teen. Se acontecer, espero que vocês testemunhem a meu favor. Ou, na pior das hipóteses, deixem um comentário de solidariedade.