Dia: abril 25, 2008
‘Elephant shell’ Tokyo Police Club **
Agora que meio mundo já se decepcionou terrivelmente com o álbum de estréia do Tokyo Police Club – os que esperavam por um novo Strokes e ficaram fulos por terem recebido um novo Hot Hot Heat -, um aviso: o disco, ainda que nada maravilhoso (e nós, habitantes deste mundão a mil por hora, só queremos saber dos discos maravilhosos, entendo), merece muito ser descoberto. Digo isso porque ele periga ficar perdido entre tantos bons álbuns de bandas bacanas que, a cada semana, são vítimas de nossas exageradas expectativas.
Não serei eu a negar os fatos. Eles ainda estão longe do paraíso – o disco é curtinho e quase rasteiro, mas o que incomoda mesmo é a produção previsível, que molda a sonoridade do grupo de forma a agradar emos e troianos. As semelhanças com o Strokes também soam brutais para uma suposta revelação do rock. Mas quando os canadenses se inspiram, eles compõem canções tão francas (e emocionantes) quanto precisas, sem floreios e com letras nada constrangedoras. Sejamos específicos: eles voam alto nas graaaandes Tessellate e Nursery academy (essa última, enternecida pelo lamento “quero voltar para casa”). Que, depois de eu ter ouvido umas 567 vezes no volume quase máximo, já estão entre as minhas favoritas de 2008.
Os reis da rua *
Ver este filme foi uma absoluta obra do acaso.
Assim: estava eu no shopping comprando umas camisetas quando percebi que faltavam exatamente três minutos para o início da sessão. Hesitei. Contei até cinco, técnica que uso para espantar os pensamentos mais tolos. Imaginei tudo que eu estaria perdendo naquelas duas horas, até mesmo o delicioso sundae de chocolate que eu não tomaria para não maltratar meu pobre intestino. Pensei na minha avó de 85 anos, que provavelmente estaria precisando da minha companhia, mas possivelmente teria saído para uma daquelas aulas de dança fogosas à Chega de saudade. Entrei na sala contrariado. E saí assim, quase do mesmo jeito. Meus instintos, eu devia começar a confiar mais neles.
É que, não é por nada não, um filme “dirigido pelo mesmo roteirista de Dia de treinamento” e com Keanu Reeves no papel principal exerce um poder de atração tão forte sobre mim quanto o novo álbum da Mariah Carey ou um episódio de Grey’s anatomy. Nada. Zero. Sério mesmo. Eu ficaria até mais interessado se fosse algo “dirigido pelo mesmo roteirista de Dia de treinamento e co-escrito pelos criadores de Todo mundo em pânico“, com Jack Black no elenco.
Mas tudo bem, estou acostumado a encarar qualquer filme com as expectativas mais otimistas. Quando entro numa sala de exibição, sou praticamente uma Polyanna (na maioria das vezes, prestes a perder violentamente a inocência). Minha vontade de encarar a experiência aumentou um tanto quando notei a participação de James Ellroy (o autor de Dália negra) no roteiro. Só que eu ainda estava cético. E não sei o que aconteceu – se David Ayer (que, além de Dia de treinamento, escreveu Velozes e furiosos) é só um péssimo cineasta ou se os outros roteiristas melaram o trabalho de Ellroy -, mas tudo quase tudo no filme soa ou mecânico ou despropositado. A trama, por exemplo, leva ao limite do absurdo todos os chavões de fitas sobre corrupção policial. Sem bom humor.
Em certa medida, o longa pode até ser tomado como um argumento para os defensores de Tropa de elite. Enquanto José Padilha usa o subgênero como ponto de partida para aventuras menos óbvias, Ayer trata a cartilha cinematográfica com os excessos de uma tragédia grega. Pena que sem impacto. As reviravoltas são quase todas muito patéticas (os dez minutos finais, desde já os mais implausíveis e cínicos e delirantes do ano, chegam a provocar gargalhadas – e são eles, exatamente eles, os responsáveis pela estrelinha lá de cima). No mais, entregar um protagonista tão dúbio a um sujeito tão inexpressivo quanto Keanu Reeves é como oferecer o papel do Capitão Nascimento ao Dado Dolabella. Um equívoco.
E não entrarei nas questões morais e éticas que o roteiro acaba respondendo de forma um tanto quanto duvidosa (o passado de Ellroy me faz levar a cena final como ironia). Quando o próximo filme “dirigido pelo mesmo roteitista de Dia de treinamento” for exibido na cidade, estarei tomando sundae.