Dia: abril 24, 2008

‘The age of the understatement’ The Last Shadow Puppets **

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A equação toda, creio eu, se resolve de um jeito bastante simples: Alex Turner nunca deixará de soar como Alex Turner, e é por isso que qualquer projeto do rapaz fatalmente soará como uma derivação de Arctic Monkeys. Talvez o sucesso de Turner tenha vindo por merecimento – ele é dos poucos compositores da geração 2000 que podem se gabar de ostentar uma marca. O jeito de cantar, as letras mirabolantes (e exageradamente rebuscadas), o fôlego para não perder a respiração nos versos quilométricos… São talentos que não se copia.

Daí que a primeira sensação deixada pela estréia do Last Shadow Puppets (projeto de Turner com Miles Kane, do Rascals) é a de um álbum do Monkeys com robustos arranjos de orquestra e letras surreais, deslocadas do dia-a-dia de meninos e meninas britânicos. O interessante do disco está sob essa superfície: na forma precocemente madura como a dupla trabalha referências psicodélicas dos anos 60 com a despretensão de quem brinca de Ennio Morricone e Burt Bacharach. Um tique do vocalista é uniformizar as faixas dos álbuns que compõe até criar uma massa compacta e sem sutilezas. Aqui, ameniza o problema sem alarde. E também sem muito brilho, o que iguala este álbum aos dois do Monkeys. Tão bom quanto, não tão bom quanto os ingleses insistirão em espalhar.

Ensinando a viver *

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Não vou gastar dez linhas com isso, prometo.

Este filmezinho do roteirista de A cor púrpura quase exige do público esse tipo de desprezo. Quem teve a idéia de uma versão mirim para K-Pax (aquele em que Kevin Spacey faz um homem que diz ter caído de um outro planeta)? Provavelmente o mesmo sujeito que conseguiu arrastar John e Joan Cusack para um projeto que quase descamba numa hilariante ficção-científica, mas acaba soando como um desses aguados dramalhões sobre pais e filhos, típicos de madrugadas de tevê aberta.

Marmeladas à parte, o carisma de John Cusack garante alguma credibilidade ao papel mais improvável (no caso, um romancista famoso e viúvo que decide adotar um menino esquisitão). Mas o melhor mesmo é o perfil psicológico do “menino de marte”. O moleque odeia sol, é branco feito um boneco de neve, só se alimenta de cereal, adora mexer com insetos bizarros, se esconde numa caixa de papelão, tem medo de sair flutuando por aí e fala uma língua confusa. Em resumo: é o Michael Jackson. E integrar o Michael Jackson ao nosso mundo deve ser uma tarefa dificílima, mesmo para um pai herói feito John Cusack.

Talvez seja um filme sobre isso. Mas não sei. E já extrapolei as dez linhas, então tchau.