Dia: abril 10, 2008
‘Hercules & Love Affair’ Hercules & Love Affair ***
O primeiro álbum do Andy Butler, do selo DFA (de James Murphy e Tim Goldsworthy), dispara uma quantidade tão grande de referências a subgêneros da disco music que faz com que eu me sinta muito burro. É codificado num idioma que parece simples, mas não compreendo por completo. Talvez esse seja o motivo do culto: a quantidade de significados que revela ao ouvinte iniciado.
Toda e qualquer resenha sobre este début acaba listando uma série de bandas e casas noturnas de uma época em que a eletrônica mais doce ainda não havia sido diluída em trilha de Embalos de sábado à noite. Pelo contrário: era tratada, dizem, como hino para a catarse de minorias enfurnadas em inferninhos do underground de cidades como Nova York e Chicago. Tá certo, então. É esse o espírito de desbunde que o DJ quer resgatar.
A contextualização ajuda para que entendamos pelo menos um traço do disco: a profusão de letras libertárias, que reeditam o oba-oba sexual típica da época. Os vocais lânguidos de Antony (agora sem o The Johnsons) ajuda nessa encenação, e as letras de You belong, Hercules theme e Time will são bem explícitas nesse aspecto. É um álbum que revisita determinados nichos e cenas, o que o torna menos universal que, por exemplo, o Sound of silver (outro disco que recicla cacos do passado) do LCD Soundsystem.
Para quem passar à margem desse lado mais cerebral do projeto, ainda assim sobrará um disco de dance music muito vivo, muito interessante. E também até (ops) fácil. Soa irregular, já que a diversidade de vocalistas acaba pesando contra a unidade do álbum, mas leva a vantagem de se ancorar num hit muito eficiente (Blind, com Antony nos vocais). A segunda metade, mais enevoada, soa como a ressaca de uma noite sem limites. Se era essa a sensação que queria passar – a de uma noitada febril -, Butler conseguiu. E isso todo mundo conseguirá entender – sem bula, sem medo de interpretar errado.