Dia: abril 8, 2008
2 dias em Paris **
Eles escreveram os roteiros no mesmo workshop de Sundance? Provavelmente, já que são impressionantes as semelhanças entre o filme do Ethan Hawke (de que gosto bastante) e o da Julie Delpy (que é quase intratável, mas tem lá seu charme). Não muito na trama nem na psiquê dos personagens, mas são obras-gêmeas no modo absolutamente sincero como filmam relacionamentos amorosos.
É que o amor, meus amigos, é mesmo patético. É mesmo juvenil. É mesmo, às vezes, uma palhaçada.
Ethan e Julie entendem os momentos mais constrangedores dos romances. Receberão acusações mil de imaturidade, mas vale perguntar se casais não teriam tendência, quase que por regra, a criancices. Nos dois filmes há a cena em que, depois de uma briga banal (como acontece em 90% dos casos), o homem desabafa estupidamente e desaba aos prantos, feito moleque. Acontece. São produções pequenas, que ostentam aparência de leveza e despretensão. São filmes de cineastas novos, inexperientes. Talvez por isso cortem caminho, tomem atalhos, economizem em formalidades e nos atinjam na testa com a força de um desabafo de amador, de confissão atabalhoada.
A diferença entre os dois é que Julie, coitada, parece não saber muito bem o que quer. Ethan fez um filme sobre o amor jovem (o título em português dá conta do recado). Julie tenta pelo menos três narrativas: o filme-diário (brincadeirinhas visuais que remetem a diluições de nouvelle vague), a crônica de uma cidade (e aí ela devia simplesmente parar tudo e alugar três filmes do Eric Rohmer) e a comédia romântica (com aquela fórmula de sempre: paraíso-inferno-reconciliação). Não dá conta de nenhuma delas.
Como cineasta, Julie chega a dar pena. Quando decide brincar com as diferenças culturais entre franceses e norte-americanos, a quantidade de estereótipos atirados na fuça do espectador é tanta que o filme fica parecendo versão descolada e indie do Casseta & Planeta. Franceses são grossos, franceses são orgulhosamente antiquados, franceses são sacanas, franceses gostam de dias nublados. Já os norte-americanos… Imagine um remake de Entrando numa fria, mas substitua o pai da noiva por um país inteiro: essa é a sina do personagem de Adam Goldberg.
Só que chega um momento, pouco antes do (tenebroso) desfecho, em que o casal precisa discutir a relação. Aí o filme toma um choque elétrico de franqueza que compensa as tantas presepadas de Julie. Ou melhor: não sei se compensa. Mas eu, que adoro discutir relação, sou suspeito para falar.