Juno ***

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Na confusão de nichos e clichês musicais, um dia me perguntaram o que significa twee e eu não soube o que responder. Há quem use o termo como sinônimo para indie pop (se você digitar a palavra no Wikipedia, encontrará essa definição). No dicionário, aparece como adjetivo para o que é “excessivamente bonito, agradável”. Seria um estado de espírito? Uma afetação? Um valor positivo? Um xingamento?

Outro dia li um texto sobre Sufjan Stevens (que cabe nos dois conceitos de twee) em que o resenhista, enfurecido, afirmava que o som do compositor não poderia ser catalogado como twee pop. Então tá. Ninguém pode. Mas sejamos simplórios, pelo menos para efeitos de passatempo: twee, tudo indica, é aquele roqueiro sensível que sussurra canções tristes ou exageradamente alegres ao violão. O twee não se assume como twee, da mesma forma como o emo não é nunca emo. Já os punks adoram ser chamados de punks, os straight edge não bebem cerveja e os metaleiros deixam o cabelo crescer.

O twee, dizem, curte grupos suecos que usam cello e bandolim. Bom saber, por que talvez eu (que odeio rótulos) seja um desses. E agora, meu pai? Aplique essa fórmula ao cinema e não haverá filme mais twee que Juno. Acabei me identificando com esses personagens tão espertos, tão descolados, tão carentes, tão desorientados por qualquer coisa. Eles são como a trilha sonora, cheia de melodias que correm risco de cair no chão e quebrar. Para ficar mais twee, só faltava Belle and Sebastian. Ops, mas aquela canção ali não seria Expectations?

Filmes que se apropriam de um fetiche pop não devem ser levados a sério, e Juno é um desses. Parece criado para a mesma geração que aprendeu a ouvir rock independente graças à trilha de The O.C., que acompanhou as temporadas de Gilmore Girls e decorou as canções de Joanna Newsom. Se eu me sensibilizo com tudo isso, é que sou um pateta. O humor auto-depreciativo, aliás, faz parte do imaginário twee.

É assim: Juno é nosso Sid & Nancy, o nosso Senhor dos anéis (metaleiros são mesmo patéticos, não são?). Ellen Page, símbolo sexual de uma nação de rapazes melancólicos, é a versão em carne-e-osso da Daria, aquela personagem de desenho animado que aparecia de vez em quando na MTV. Ela transa com um bobalhão, engravida, decide não abortar, sai à procura de pais adotivos para a criança e, ainda assim, não deixa de disparar frases de efeito simultanemente sarcásticas e sensíveis. Detalhe: ela é fã de punk rock, mas encara o estilo com aquele distanciamento de quem pesquisa uma enciclopéia na biblioteca da universidade. Ai ai.

O filme, aviso, não vale um disco inteiro do Sufjan Stevens. Jason Reitman ainda dirige daquela forma exibida de quem ainda tem muito a provar. Como em Obrigado por fumar, a narrativa vem picotada em um misto de cartoon, clipe e colagem publicitária. Nada muito novo (e Domingos de Oliveira já tirava esses truques da cartola lá em Todas as mulheres do mundo). O roteiro de Diablo Cody tem uma queda irritante pela filosofia de livros de auto-ajuda. Mas nada disso tira o mérito de um filme adorável. Excessivamente bonito e agradável. Talvez a culpa seja dos bons atores, ou de uma composição de personagens à história em quadrinhos, caricaturas cheias de vida.

Para mim, o segredo está no tipo vivido por Michael Cera. O bobalhão. O twee por natureza. O garoto viciado em balinhas Tic Tac. O herói que ama terrivelmente, mas o faz em silêncio, com absoluta discrição. O filme só deixa de soar como um episódio menor de Anos incríveis, por isso, nos momentos finais. Aí descobrimos que trata-se, acima de tudo, da crônica sobre o momento em que as meninas decidem apostar nos caras decentes e legais. Você, que não teve o coração partido em três, vai sair da sala de cinema sem ter entendido nada.

5 comentários em “Juno ***

    Fernando disse:
    janeiro 27, 2008 às 5:59 pm

    “Parece criado para a mesma geração que aprendeu a ouvir rock independente graças à trilha de The O.C., que acompanhou as temporadas de Gilmore Girls e decorou as canções de Joanna Newsom.” Guilherme Alves?

    Tiago Superoito respondido:
    janeiro 27, 2008 às 6:02 pm

    Guilherme Alves não curte The O.C. Pelo menos creio que não.

    alves, le roi disse:
    janeiro 30, 2008 às 2:23 am

    nao. SIM. kinda (so milk-eyed e ys mas nunca fui mais do que um bom entusiasta, temo; mujeres em alta no itunes: billie, ella, chan, nina, linda thompson).

    preciso ver juno, eu sei, eu sei. todo mundo diz que é gilmorly. ate parece que é facil negar a presença de garotas espevitadas que engravidam aos 16 na minha vida.

    Tiago respondido:
    janeiro 30, 2008 às 8:57 am

    Não vá com expectativas muito altas, Guilherme, pq Gilmore Girls é melhor.

    Manu disse:
    fevereiro 21, 2008 às 1:37 pm

    Ahhh
    eu adorei o filme, as músicas são ótimas…
    =)

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