Dia: janeiro 21, 2008
Jukebox #03
Fui ali tomar um cafezinho e trouxe algumas impressões rápidas, cruéis e desencontradas sobre discos que já saíram ou estão para sair (e este espaço agora tem nome, vejam só). Antes de mandarmos nossos ídolos ao paredão, dois comentários breves sobre discos que já passaram por estes cantos: 1. Por mais que eu tente, não consigo encontrar em Distortion, do Magnetic Fields, o grande retorno à forma que andam descobrindo por aí. De qualquer forma, é o melhor disco que poderiam ter tirado de uma homenagem superficial ao Psychocandy, do Jesus & Mary Chain. 2. O álbum do Atlas Sound melhora a cada audição, mas ainda não consigo dizer se é uma fraude muito ajeitada ou algo autêntico, digno de muito interesse. Tento de novo e já digo.
O segundo álbum de covers de Chan Marshall é um livro didático sobre como o Cat Power operou a transição do lo-fi descompromissado para os climões supostamente sofisticados da soul music, do country e do blues. O que estava nas entrelinhas de The greatest ganha nome e sobrenome: Bob Dylan, James Brown, Joni Mitchell, Billie Holiday e daí em diante. Mais desafiador é quando Marshall revê uma canção própria (a ótima Metal heart) ou quando arrisca uma inédita, Song to Bobby. Decepciona como os arranjos são convencionais e até um tanto monocromáticos – e deixei de falar do talento da moça para se apropriar da poesia alheia, mas isso vocês já sabiam.
Heretic pride, The Mountain Goats
Depois de afundar em depressão no confessional (e acinzentado) Get lonely, John Darnielle tenta um álbum mais arejado e eclético – tanto musical quanto tematicamente. Abre com empostação teatral que chega a lembrar The Decemberists (Sax Rohmer #1), e depois segue por uma variedade de temas que chega até a incluir um delírio sobre o vilão de Halloween. Com menos faixas, provocaria mais impacto. Mas, para os padrões do grupo, tem tudo para constar como um belíssimo álbum. O problema é comigo: por mais que eu entenda e admire a poesia obtusa de Darnielle, não consigo me importar com muito do que ele escreve. A sensação, acho, tem a ver com o distanciamento que ele imprime a belas canções como Tianchi Lake.
Here comes the future, The Honeydrips
É o típico álbum sueco recomendado pela Pitchfork. Ou seja: apesar de sair em busca do pop perfeito, Mikael Carlsson tem muitos esqueletos no armário. Não consegue amarrar uma canção de amor sem incluir nos versos lamentos de solidão e de romantismo juvenil. Tudo bem, mas não chega a ser algo tão especial (dá pra lembrar outros exemplos recentes muito parecidos, como Loney, Dear). De qualquer forma, o álbum tem canções muito fortes, que se sairiam bem como singles – como, por exemplo, Trying something new -, além de uma divertida resposta ao Joy Division (Lack of love will tear us apart). Quando Mikael decide trabalhar seriamente com eletrônica, em Fall from a height, o coração finalmente pega fogo.
Auditorium, Radar Bros
São poucas as bandas desconhecidas (pelo menos por mim) que sobrevivem ao duro teste da primeira audição. O Radar Bros, de Los Angeles, venceu a prova com este quinto disco. Toda vez que ouço, ainda torço para que se sustente como um álbum tão consistente quanto eu gostaria que ele fosse. Mas, se não podemos ter tudo o que queremos, eis o trabalho de um grupo que sabe muito bem o que quer – construir uma ponte entre o Pink Floyd de Wish you were here com o alt-country do Wilco. Parece indigesto, mas a combinação dá certo em faixas como Warm rising sun e Hills of stone. As letras são até risíveis de tão absurdas, mas as melodias felizmente brigam bem e ganham a batalha.