Dia: janeiro 20, 2008

Eu sou a lenda ***

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O que faz o último homem do planeta? Joga golfe na asa de um avião de guerra, caça animais silvestres nas ruas vazias de Nova York, assiste aos vídeos de uma locadora abandonada, acena para manequins, decora os diálogos de Shrek, pratica exercícios matinais, arrisca o enésimo karaokê em cima de Three little birds, de Bob Marley. E mata zumbis – já que, caso contrário, este seria um filme de Béla Tarr.

Você diria, com certa razão: os zumbis não são lá muito bem-vindos. Talvez não completamente, eu diria. Eles funcionam como o fator “pé-no-chão” para um filme que, nos primeiros 40 minutos, demonstra muito bem como Hollywood ainda nos deslumbra quando encontra formas inteligentes de usar truques de CGI para deslocar detalhes do nosso mundo a um ambiente de fantasia, de sonho. Não sei por você, mas eu ficaria as duas horas de filme diante daquelas primeiras imagens, em que Will Smith – o último homem do planeta – cumpre atividades banais na companhia de um cachorro-fiel-companheiro (N.E.: Tiago Superoito ficou envergonhado com a observação de foro íntimo, mas o bichão parece muito com o cão dele, Simba) em uma cidade com abundância de tempos mortos.

Will Smith sobreviveu, fazer o quê? Até por falta de opção, ele sai por aí em busca de contato. Transmite uma mensagem em todas as frequências radiofônicas, à espera de que alguém escute e o encontre. À noite, se protege dos zumbis ao ladinho do cão-amigo (perceba que nosso herói solitário não consegue dormir direito) e, de vez em quando, se enfurna em um laboratório para procurar antídoto para o vírus que provocou o apocalipse. O filme se chama Eu sou a lenda, e não à toa: descobriremos que, se a narrativa toda soa meio absurda (três anos de caos e ainda temos água encanada e energia elétrica?), não poderia ter sido diferente. Lendas não obedecem parâmetros realistas, e são moldadas de acordo com os humores de quem as narra.

Pensando bem, este é quase projeto perdido de Shyamalan. Mas sem excessos sentimentais, graças a Jah.