‘Real emotional trash’, Stephen Malkmus & Jicks ***

Postado em Atualizado em

malkmus.jpgHá dois tipos de fãs do Pavement.

O número 1 torce muito que Stephen Malkmus deixe quieta essa tal carreira solo (que, acusa o fã inconformado, nunca decolou mesmo), que retorne ao rock melodioso e bem-humorado das antigas e, de preferência, chame os velhos chapas para um cafezinho em que eles todos, muito alegremente, decidirão pelo retorno do grupo. O álbum da ressurreição se chamaria Oh you pieheads! e seria um fiasco.

O número 2 entende que os saltimbancos do alt-rock encerraram as atividades na hora certa (e poderiam até ter terminado antes, notam alguns admiradores mais realistas) e aos poucos começa a compreender que a carreira solo do sujeito é até bastante digna, já que Malkmus faz o possível para não escrever canções que o Pavement gravaria. Contra as vontades dos fãs, seguiu um caminho inusitado: o de uma aproximação sutil com o rock psicodélico do início dos anos 1970, às vezes com solos de guitarras tão longos que beliscam o progressivo.

Estamos falando de uma opção estética, perceba, já que Malkmus continua o mesmo poeta do absurdo, capaz de narrar crônicas domésticas como quem nos avisa sobre a descoberta de uma nave espacial. Esse contraste entre uma sonoridade cada vez mais elaborada e um discurso ainda descompromissado marca álbuns como este Real emotional trash, que está para sair.

Depois de ouvir e ouvir de novo a versão expandida de Crooked rain, crooked rain, tenho que admitir: não quero que o Pavement volte. Deixem como está, ok? É daqueles casos que, se melhorar, estraga. E, depois de ouvir Real emotional trash com o coração aberto, começo a perceber que Stephen Malkmus já está longe demais dos fãs que insistem no retorno do morto-vivo. Não há volta, pelo menos não do jeito como eles querem. Quando estamos diante de um disco elegante e seguro como este, essa parece até uma boa notícia.

Talvez seja o melhor álbum solo de Malkmus. Mas entenda, antes de acusá-lo de qualquer coisa, que o disco existe estritamente dentro dos parâmetros defendidos pelo compositor desde Pig lib, de 2003. Ou seja: os solos de guitarra continuam longos e exibidos (e a cozinha do Jicks mais uma vez ajuda que é uma beleza) e os arranjos estão mais limpos que nunca. Mas nada disso representa uma queda por uma cartilha mais convencional e “adulta”. Ao contrário, soa como uma progressão natural do que ele fez até aqui. E sério: se o fã do Pavement, qualquer fã do Pavement, não sair com o coração partido depois de ouvir We can’t help you, Out of reaches ou o refrão de Dragonfly pie, ele perdeu o fio da história. Ficou para trás.

Malkmus, bom saber, não está nem aí para nada disso.

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s