Dia: janeiro 17, 2008

P2: sem saída **

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Enquanto a executiva desesperada quebra as câmeras de vigilância do estacionamento, o guardinha obsessivo mata (literalmente) o tempo com uma performance delirante de um clássico de Elvis Presley.

Combinemos: qualquer filme com uma sequência dessas não será ruim.

‘Real emotional trash’, Stephen Malkmus & Jicks ***

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malkmus.jpgHá dois tipos de fãs do Pavement.

O número 1 torce muito que Stephen Malkmus deixe quieta essa tal carreira solo (que, acusa o fã inconformado, nunca decolou mesmo), que retorne ao rock melodioso e bem-humorado das antigas e, de preferência, chame os velhos chapas para um cafezinho em que eles todos, muito alegremente, decidirão pelo retorno do grupo. O álbum da ressurreição se chamaria Oh you pieheads! e seria um fiasco.

O número 2 entende que os saltimbancos do alt-rock encerraram as atividades na hora certa (e poderiam até ter terminado antes, notam alguns admiradores mais realistas) e aos poucos começa a compreender que a carreira solo do sujeito é até bastante digna, já que Malkmus faz o possível para não escrever canções que o Pavement gravaria. Contra as vontades dos fãs, seguiu um caminho inusitado: o de uma aproximação sutil com o rock psicodélico do início dos anos 1970, às vezes com solos de guitarras tão longos que beliscam o progressivo.

Estamos falando de uma opção estética, perceba, já que Malkmus continua o mesmo poeta do absurdo, capaz de narrar crônicas domésticas como quem nos avisa sobre a descoberta de uma nave espacial. Esse contraste entre uma sonoridade cada vez mais elaborada e um discurso ainda descompromissado marca álbuns como este Real emotional trash, que está para sair.

Depois de ouvir e ouvir de novo a versão expandida de Crooked rain, crooked rain, tenho que admitir: não quero que o Pavement volte. Deixem como está, ok? É daqueles casos que, se melhorar, estraga. E, depois de ouvir Real emotional trash com o coração aberto, começo a perceber que Stephen Malkmus já está longe demais dos fãs que insistem no retorno do morto-vivo. Não há volta, pelo menos não do jeito como eles querem. Quando estamos diante de um disco elegante e seguro como este, essa parece até uma boa notícia.

Talvez seja o melhor álbum solo de Malkmus. Mas entenda, antes de acusá-lo de qualquer coisa, que o disco existe estritamente dentro dos parâmetros defendidos pelo compositor desde Pig lib, de 2003. Ou seja: os solos de guitarra continuam longos e exibidos (e a cozinha do Jicks mais uma vez ajuda que é uma beleza) e os arranjos estão mais limpos que nunca. Mas nada disso representa uma queda por uma cartilha mais convencional e “adulta”. Ao contrário, soa como uma progressão natural do que ele fez até aqui. E sério: se o fã do Pavement, qualquer fã do Pavement, não sair com o coração partido depois de ouvir We can’t help you, Out of reaches ou o refrão de Dragonfly pie, ele perdeu o fio da história. Ficou para trás.

Malkmus, bom saber, não está nem aí para nada disso.