Dia: janeiro 10, 2008

Dança do vampiro (e dos campesinos)

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O tempo corre, o tempo voa e, depois que o sujeito da Pitchfork revelou que a equipe do site avalia cerca de 3 mil discos por ano (aliás, vale ler esta matéria aqui para entender como essa triagem enlouquecedora  funciona), pensei aqui comigo: não dá para ficar ouvindo o mesmo álbum 200 vezes antes de rabiscar alguma opinião mais ou menos decente sobre ele. Na pressa, aí vão as primeiras impressões de três discos que estão entre os lançamentos mais aguardados deste início de ano – e um que quase ficou (muito injustamente) perdido na ressaca de 2007.

vampirepeq.jpgVampire Weekend, Vampire Weekend

O hype em torno da estréia do quarteto nova-iorquino é tão barulhento que periga abafar a música. Vamos torcer para que isso não aconteça. E daí se eles parecem um Strokes 2.0? O conceito por trás do disco – fundir ritmos africanos com poesia pop européia, e embalar tudo com a simplicidade do novo rock de NY – soa tão calculado que a aparência despretensiosa do álbum até surpreende. Os garotos só querem se divertir. E com faixas tão raquíticas quanto espertas, acabam recuperando a simplicidade da geração 2000 do rock norte-americano. Dá pra imaginar o sorriso do Julian Casablancas quando ouvir os primeiros acordes de Oxford comma ou I stand corrected. Disquinho fabuloso.

loscampesinospeq.jpgHold on now, youngster…, Los Campesinos!

O septeto galês chega ao primeiro álbum depois de um EP que, se não chegou a animar tanto, pelo menos emplacou a ótima You! Me! Dancing! (e, nas resenhas mais negativas, foi comparado ao Architecture in Helsinki). Mais que isso, o disco sublinha a impressão de que eles são muito influenciados pelo rock canadense, e a produção over, com camadas e camadas de efeitos, lembra as farras do Broken Social Scene. Nas primeiras audições, pode encher o estômago cedo demais. Com o tempo, o feitiço torna-se irresistível: eles fizeram um álbum bem forte, capaz de firmar o grupo como uma das maiores revelações do ano. A festa nunca termina, e é uma festança.

nadasurfpeq.jpgLucky, Nada Surf

É o melhor álbum do Nada Surf, mas ainda assim soa estranhamente superficial. Não chega a ser o maior dos problemas, principalmente se você associa power pop a álbuns diretos e unidimensionais (sabemos que não é assim que as coisas funcionam). Mas não deixa de ser interessante o momento em que uma banda indie aposta alto e joga para ganhar. O disco abre com uma canção sobre morte e, a partir daí, disseca o Manual de Composição Brian Wilson em uma seleção de faixas que alterna o rock mais automático com alguns surtos sombrios (The fox, por exemplo, é Radiohead sem calorias). Convence, mas nunca serão um New Pornographers.

lupefiascopeq.jpgThe cool, Lupe Fiasco

Um dos melhores discos de hip hop lançados em 2007 quase passou em branco – e é um crime que não queiram divulgar o álbum com a atenção que ele faz por merecer. Tem quase tantos candidatos a hit quanto Graduation, por exemplo, e um cuidado raro em buscar a sonoridade ideal para vestir as crônicas bem-humoradas e surreais de Lupe. Daí que até uma parceria com o UNKLE, que poderia ter rendido o bate-bola mais forçado do planeta, cai bem na lógica generosa do rapper. Há faixas excelentes, como Dumb it down (sobre como é fácil fazer sucesso com canções idiotas), que justificariam até um álbum bem menos poderoso. Entre os discos de rap do ano passado, só perde (por pouco) para o do Jay-Z.