Dia: janeiro 6, 2008

‘For Emma, forever ago’, Bon Iver ***

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boniverpeq.jpgO primeiro grande disco de 2008 chegou em 2007.

Explico. Lançado em esquema totalmente independente ano passado, o primeiro álbum do Bon Iver – banda-de-um-homem-só pilotada por Justin Vernon – provocou impressão tão boa que será distribuído a partir de fevereiro pelo selo Jagjaguwar. O New York Times chamou de “irresistível”, a Pitchfork colocou na lista dos melhores de 2007. Seria mais um daqueles discos que se consagram como segredos muito bem guardados. Espero sinceramente que isso não aconteça.

Sim, já que assistir à escalada de um álbum caseiro e radicalmente pessoal como este soa como uma história tão interessante quanto aquelas narradas nas canções de Vernon. Ouvir o disco é como descobrir em uma fita demo que seu primo é o novo Jeff Buckley. Fica uma sensação parecida àquela deixada pelos primeiros trabalhos do Elliott Smith: as mais inspiradas melodias refletem um ambiente tão modesto que tudo acaba parecendo um passe de mágica. “Como ele faz isso?”, nos perguntamos, meio bobos da vida.

Quem ouve o álbum sem saber nada sobre como foi composto e gravado notará, mesmo assim, a névoa de solidão e melancolia que paira sobre este diário lírico. O título indica uma coleção de declarações de amor escritas tarde demais, bem depois de uma separação inevitável. Não deixa de ser verdade. No caso, Vernon se divorciou da antiga banda, chamada DeYarmond Edison. Isolado em uma cabana durante três meses friorentos, rascunhou (com sangue e lágrimas?) as faixas do álbum. Capturadas por ultrapassados equipamentos de gravação, elas nasceram sujas e imperfeitas – borrões abandonados no canto da página. Muito sabiamente, Vernon não decidiu incluir faixas-bônus nem caprichar na produção quando assinou o contrato com o selo indie. O disco continua um diamante bruto.

Meu momento favorito é quando, na belíssima Creature fear, ouve-se um solavanco estranho na transição entre os primeiros versos e o refrão (deslumbrante), como o resultado de uma colagem malfeita. Faça você mesmo, sim, faça toscamente. A graça é que, com exatamente os mesmos recursos de Vernon, muito provavelmente você não conseguirá fazer um disco como este.