Dia: dezembro 30, 2007

Cinco álbuns para um ano novo

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Se descontarmos o prometido retorno do Portishead e os novos álbuns do Breeders e Franz Ferdinand, 2008 por enquanto promete ser um ano com um calendário de lançamentos bem menos espalhafatoso que o de 2007. Muitos dos discos que serão lançados entre janeiro e fevereiro já estão na rede, e fiz o test drive com alguns deles para tentar descobrir em que pé estaremos. O resultado, já aviso, está longe do espetacular.

hotchippeq2.jpgMade in the dark, Hot Chip

É uma das principais novidades do primeiro semestre, e… Já pode ser considerada uma pequena decepção – pelo simples fato de que, a essa altura, todo mundo está esperando do Hot Chip, no mínimo, um grande disco. O que eles praticam aqui é o exercício seguro de atirar para todos os lados, com pelo menos três variações para o hit Over and over (uma delas é Shake a fist) e até algumas baladas soul. O disco começa com percussão afro e zumbidos à música indiana, um Chemical Brothers sem calorias. Fica melhor quando investe naquilo que a banda sabe fazer muito bem: eletrônica delicada, juvenil e melancólica. Fique com Ready for the floor e One pure thought.

magneticpeq.jpgDistortion, The Magnetic Fields

Essa soa como uma decepção ainda maior – tão estranha que fico até com medo de ouvir o disco mais uma vez. Seria o ocaso de Stephin Merrit? Como sempre, ele segue à risca um conceito resumido no título do álbum. Agora as canções todas vêm embaladas em uma névoa de distorção – ainda que o efeito não seja assustador nem nada. Lembra muito, aliás, os climas sombrios (e cômicos) do projeto paralelo do compositor, o Gothic Archies. Momentos fortes como Too drunk to dream se perdem em trechos que, em dias melhores (i.e., fase 69 love songs), Merrit tiraria com os pés nas costas e reservaria para lados B de singles.

beachpeq.jpgDevotion, Beach House

O primeiro álbum desse duo de Baltimore ficou entre os melhores de 2006 na lista da Pitchfork – o único site que abriu o olho para a psicodelia dopada da banda, espécie de cruzamento entre Mazzy Star, Portishead (sem o lado eletrônico) e climas shoegazer. Este segundo é um pouco melhor, já que a massa sonora ganha algumas camadas mais sutis com a adição de elementos de soul music do fim dos anos 1960. Há faixas belíssimas e tristes à beça, que ouço sem parar – como Gila e Astronaut -, mas também não dá para relevar um certo marasmo, que pesa lá pela metade do caminho.

loveispeq.jpgMixed up, Love is All

É um disco de remixes prematuro. Os suecos têm apenas um trabalho, com nove faixas (Nine times that same song), e o momento talvez seria de um álbum com novas canções. Mas a justificativa para o ato de narcisismo é até boa: eles têm bons amigos como Hot Chip, The Bees, Studio e Maps, que às vezes até dão uma melhorada em faixas que pareciam largadas pela metade. Há tentativas muito acertadas, como a versão funk do The Bees para Make out fall out make up e as duas interpretações para Busy doing nothing (Optimo e Tapedecic), uma música tão bacana que parece ficar boa de qualquer jeito.

atlaspeq.jpgLet the blind lead those who can see but cannot feel, Atlas Sound

Por último, mas não menos importante… O primeiro álbum do projeto do porralokinha Bradford Cox (líder do Deerhunter) periga ser o mais interessante dessa listinha aqui. Só ouvi uma vez, então não posso dizer grandes coisas. Mas é como o oposto perfeito de um disco do Deerhunter: em vez da miscelânea de estilos, o álbum conta uma história com começo, meio e fim, toda costurada por uma estrutura ambient corrompida por belos surtos pop. O vocalista conta que é um disco sobre infância. E define como “música terapêutica”. Talvez seja isso mesmo, no melhor sentido. Volto a ele depois.