Propriedade privada **
Um dos melhores filmes de terror do ano.
Aí vocês me perguntam: foi um bom ano para filmes de terror? Não foi. Mas este conto mínimo sobre relações familiares provoca mais frio na espinha que, digamos, 30 dias de noite. Perturba, e de um jeito que as almas-penadas tailandesas, por exemplo, não conseguem. É que, até certo ponto, o tom extremamente realista desta encenação nos deixa perigosamente perto das vidas de pessoas tão iguais a tantas que conhecemos, e ao mesmo tempo amarradas em laços sentimentais tão doentios.
De início, até imaginamos que trata-se de mais uma história sobre a mãe possessiva que mina a vida adulta de dois filhos, irmãos gêmeos. Parece que ela os aprisiona em um casarão (mal-assombrado?), já que o ex-marido mal pode se aproximar dos dois. Mais adiante, descobrimos que a situação é mais complexa: quando a mãe começa a planejar o futuro ao lado de um novo namorado, os filhos não aceitam. E não aceitam violentamente. Todos deverão viver juntos sob aquele teto. Por quê? Até quando? Os personagens não têm respostas, não querem respostas. Estão todos perdidos em um delírio tão íntimo que ninguém poderá resolver.
Com esses dramas, e apenas com eles, o filme já seria muito assustador. Provocaria ainda mais impacto com 70 minutos de duração, como um golpe rápido e frio. Quanto mais próximo das nossas vidas, mais tormento provoca. O que me incomoda no filme é a necessidade de levar esse conflito a um ponto alto, a um clímax, a uma dispensável simplificação de intenções. O que fica na minha memória não é o desfecho, mas a simples imagem dos três personagens atirados no sofá da sala, no descanso vazio de uma prisão domiciliar. Brrrr.