Dia: dezembro 16, 2007
Senhores do crime ***
Há uma disputa seca e tensa entre mafiosos russos – estamos em um duríssimo filme de gângster. Mas logo ali transita a médica angelical que procura final feliz para um recém-nascido sem pai nem mãe. Seria um conto de fadas? Mais adiante, o gângster encontra a médica e estamos quase na borda de um filme de amor. Mas quase. A trama dobra a esquina e, numa seqüência inacreditável de pancadaria dentro de um banheiro público (que termina da forma mais cruel que poderíamos imaginar), nos damos conta que estávamos desde sempre em um… filme de David Cronenberg.
Não importa mais o que ele decida filmar, se o homem-mosca ou o (traumatizado) homem-aranha. Há temas que perspassam o subtexto de cada um dos filmes, e que retornam aqui sob falsa aparência de sobriedade. Mais que amarrar as pontas de uma história de reviravoltas e traições, Cronenberg vai fundo no estudo psicológico de personagens endoidecidos pelo desejo de roubar o poder, estar no poder, manter-se no poder. Não há como dividir tronos – e, esse jogo doentio de “resta-um”, o cineasta acompanha com distanciamento, e tristeza. Ele sabe como a história termina, mas ainda não consegue entender os estranhos mecanismos da obsessão humana. O cinema de Cronenberg não está aí para satisfazer as vontades de ninguém: fica mais complicado, e melhor, com o tempo.
Encantada **
Atenção, meninas de nove anos de idade: príncipes encantados existem, mas podem não ser tão interessantes quanto o bobalhão da porta ao lado.
E assim, com esse tipo de lição de moral meio torta, a Disney segue conquistando minha admiração. É o que chamo de feel good movie.
O reino *
Por mais que eu entenda o interesse de um action movie com subtexto político, o processo fica um pouquinho difícil quando a ação segue uma fórmula desgastada de encenação (se a câmera parar de tremer, o filme explode?) e o discurso político se resume a um apanhado de notícias da CNN mastigadinhas para encher a barriga de um público desatualizado. Funcionar, funciona: como cinema para atiçar as crises de paranóia de uma multidão de espectadores traumatizados. Mas cá estou eu e meu pessimismo: se Munique virou grande evento, por que não pode?