Dia: dezembro 6, 2007

FicBrasília, sexto dia

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VOCÊS, OS VIVOS **

Não sei se seria mero curto-circuito de referências, mas o filme insistentemente me levou ao habitat acinzentado e chuvoso do cartunista Will Eisner (e também da peça de Felipe Hirsch, Avenida Dropsie). Os sketches do cineasta – ora cômicos, ora brutalmente tristes – dependem de um trabalho de composição visual muito rigoroso, mas a narrativa é uma montanha-russa. Às vezes genial de tão estranha (toda a seqüência da casa em movimento, por exemplo), às vezes de um preciosismo modorrento, à bolha de sabão. Não sei ainda se gosto, mas não consigo deixar de admirá-lo.

O SOL ***

Uma grande surpresa, já que tenho sérios problemas com os dois outros filmes do Sokurov sobre ditadores – pelo que lembro, o Hitler de Moloch mal sobrevivia a uma encenação enlameada e aborrecida, que chama exageradamente atenção para si. Aqui, a excelente interpretação de Issei Ogata para o imperador Hirohito já resolve muitos dos vícios do cineasta. O personagem tem alma, e estamos conversados. O trabalho com o digital, que rende uma fotografia toda em tons sépia, também impressiona – mas, felizmente, não ofusca o retrato íntimo de um líder em transição, prestes a abandonar a pompa divina para entregar-se ao culto a ídolos de cinema, à investigação do mundo natural, a caixas de chocolate, à cultura pop norte-americana. Humano, acima de tudo.