Dia: dezembro 4, 2007
FicBrasília, quarto dia + 1
Tente aliar um festival de cinema com uma rotina estressante: você terá pouco tempo para escrever sobre filmes que mereceriam páginas a fio. Peço desculpas antecipadas, e aí vão minhas desprezíveis contribuições ao debate.
JOGO DE CENA ****
Seria o Coutinho definitivo? Para um fã incondicional de Santo forte, difícil chegar a essa conclusão. Mas está bem claro como o cineasta revisa aqui várias marcas do próprio cinema – que muda de filme a filme, mas permanece igual, centrado na oralidade, na narração de histórias – e dá um belíssimo passo adiante quando expõe a grande questão sugerida pelos filmes anteriores: se toda entrevista é uma encenação, quais seriam as engrenagens desse jogo? A comparação entre supostas confissões e a interpretação de atrizes conhecidas já daria pano pra manga (há o momento antológico em que a atriz se emociona, mas a “dona da história” não), mas Coutinho empurra o conceito adiante até nos deixa abandonados, sem saber em quem acreditar. É um monumento erguido sobre uma estrutura absolutamente simples, e um dos melhores filmes de 2007.
SEMPRE BELA ***
Buñuel ficaria orgulhoso com uma homenagem tão leve e tão perversa.
+ 1
BEE MOVIE **
Se movimenta mais ou menos como um bom episódio de Seinfeld, com uma trama que se desdobra em situações imprevisíveis e às vezes arranha um tipo de cinismo muito amargo. Começa como a história de uma abelha inconformada com a necessidade de trabalhar até morrer. Esse herói sai ao mundo e encontra uma mulher. Parece estar apaixonado por ela, mas o que vem a seguir? Um filme de tribunal sobre roubo de mel, seguido de um panfleto ecológico sobre equilíbrio na natureza. Não é a típica animação da Dreamworks, mas o design continua uma beleza de se admirar.